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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Odeio cortar cebolas, sempre acabo cortando o dedo. Qualquer dia vou arrancá-lo da minha mão. Eu não sei cozinhar, nunca soube. Eu me queimei, como uma criança que não sabe que brincar no fogo é arriscado. Eu gosto de desafios, mesmo que no final eles acabem desafiando- me a sobreviver.
Não consigo mais lembrar de como eram aquelas cebolas feitas na frigideira por alguém tão exclusivo, talvez por alguém que nunca tenha existido. Não, existiu, pelo menos nas minhas fantasias mais doentias, mais extravagantes, as mais reais... Eu me sustentaria delas, se fosse apto a isso. Esqueci-me da melhor sensação do mundo. Vai ver é este o pretexto de estar me matando aos poucos, entre cortes e queimaduras, entre lençóis e minhas armaduras.
Eu não sinto o sangue agitar nas minhas veias, ele se foi num só corte. Nem mesmo as queimaduras na minha pele, pois agora sou de ferro. Eu me curo. Estou montada e dominada por uma armadura que não me deixa saborear nada, nem ao menos respirar. Queria poder me lançar, me libertar, sorrir, suspirar e quem sabe até a sentir. Sentir qualquer coisa, nem que esta fosse medo. Ou desprezo, desprezo por aquilo que eu sou, pelo o que eu me tornei. eu sou a chave da minha armadura, a culpada desta prisão.
E agora eu estou presa.
Presa em um sentimento. E é nesta prisão que eu me conheço e é nela que eu me assusto. Não me considero uma mais uma sobrevivente dos meus pensamentos extravagantes, mas uma derrotada. E mesmo assim, estou aqui, sóbria, ouvindo musicas que não deveria, refletindo minha existência e minhas passagens, de momentos, de coisas que ficam no fundo de nossas imaginações e que às vezes vem à tona para nos dar saudades de uma época, de algo corriqueiro, que foi e nunca mais voltará. Considero-me uma pessoa de sorte por vários aspectos, que espero não ter de citar nesse texto. Apenas sei que tenho sorte, por pelo menos ter podido sentir isso alguma vez. E fraca, estúpida, por acreditar tão friamente que nunca mais sentirei.
Acredito nas minhas emoções, mesmo que estejam todas soterradas dentro de mim. E eu tenho uma certeza: elas não mentem e não fracassam.