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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Nostalgia

Quero ser criança. Continuar a olhar a vida com deslumbre, como se cada passo fosse em direção a algo divertido. Juntar-me com as meninas para falar que os meninos são nojentos e ridículos. Brincar de boneca e me divertir muito com isso. Quero recuperar a inocência, o jeito puro de olhar as coisas. Correr pela rua sem rumo e me contentar absurdamente com isso. Aprender o tempo todo como tudo funciona. Surpreender-me com coisas banais e xingar os outros de bobo. Fazer pirraça na hora de comer legumes e encher o saco pra degustar a sobremesa e tomar refrigerante. Apaixonar-me pelo menino mais feio, só por ele me oferecer um pouco do seu lanche no recreio. Ser sincera, não medir palavras pra dizer o que penso. Ser simplesmente feliz e não me preocupar com os outros.
Quero ser adolescente. Viver intensamente da maneira que eu quiser. Dançar para descontrair e gritar muito alto nos momentos bons. Encher a cara, despertar na praia com a cara toda cheia de areia. Ser imprudente, não medir minhas atitudes. Ser dramático, colocar todos os meus sentimentos a prova de fogo. Sofrer demais, quando necessário. E gargalhar quando alguém contar uma piada sem graça. Saborear a vida e fazer dela algo mais próximo do que eles mostram em filmes. Apaixonar-me loucamente a ponto de achar que a vida não faz sentido quando esta pessoa não estiver comigo. Chorar quando alguém disser que está partindo, e me tornar a pessoa mais feliz do mundo quando alguém disser que veio só para me ver. E viver, viver, viver...isso me bastaria.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Capitulo 5 - Um Brilho Nos Olhos Como De Uma Criança

Rio de Janeiro, 3 de maio de 1985, Sábado.

Querido diário.

Entre um gole e uma tragada. Entre um corredor e um cômodo. Você bebia um vinho barato e eu, minha nova amiga, a garrafa de cerveja. Nunca vira coisa mais linda na vida. Não havia vento, nem luz para que sua beleza expandisse, mas isso também não seria necessário. Mesmo no escuro e bêbado, te vi. Logo ali, parada na pista de dança, sonhando. Tive sede. Queria um gole do seu vinho. Do seu vinho.

19:23




Não sabia se ficava, se fugia, ou se corria atrás do que deixara para trás há muito. Não sabia se bebia, se fumava, ou se simplesmente admirava o dia começar a surgir. Se ria, se chorava, se me sentia em paz, ou atordoada. Fechei os olhos e tentei perceber onde tudo isso começou. Eu tinha sido muito idiota, ou você muito imaturo? Ou, quem sabe, estávamos somente fora de sintonia. Peguei a bolsa, eu estava mesmo decidida. Eu voltaria, pegaria meu carro na rua seguinte e faria o retorno para a Gávea. Sabia que não podia mais deixar a vida caminhar livremente pelas ruas de meus pensamentos. Mas meus sonhos sempre se perdiam no escuro de um túnel. E este estava prestes a passar por uma dessas escuridões. E este, eu sabia, não poderia perder tão facilmente, tão brevemente. Não mais.
Como criança, desabei em pranto. Deveria pegar meu carro, de repente aparecer em sua casa. De repente me calar pra sempre. Não, eu deveria aparecer e trocar um pouco das minhas lagrimas velhas, por algumas mais recentes. É, só pra dizer coisas que eu nunca quis, ou realmente manter os olhos bem fechados ao te beijar. Pegar o carro, só por pegar. Aparecer por um motivo no qual eu não precisaria dar argumentos. Só pra dizer algumas coisas. Pra pedi-la em casamento, quem sabe, ali mesmo, onde ela estiver parada me encarando. Xingando-me, pra variar. Perguntando se a amo, se não vou partir amanha de manha para algum lugar desconhecido. Perguntando-me se desta vez, desta ultima vez, vamos realmente seguir nossas intuições, nossos sentimentos guardados. Se desta vez, vamos deixar a felicidade se permitir aparecer.
Atravessei a rua, entrei no carro e enquanto colocava o cinto, decidi que também contaria a ele tudo que me fizera correr. Repassei pelo menos umas 15 vezes o que eu pretendia dizer em minha cabeça, não cheguei a nenhum acordo com minhas idéias. Falaria então, o que me viesse a cabeça no momento. Gaguejaria e sabia disso, mas pelo menos diria verdades, mesmo que estas pudessem sair embaraçadas. Diria o que sentia por ele, se isso soasse saudável para mim. Cheguei ao seu prédio e interfonei. Ele deveria estar em casa....ele simplesmente tinha que estar em casa.
- Alô?!
- Michel, sou eu, Júlia.
- Júlia, pode subir! Abriu?
- Abriu, obrigada.
Meu Deus, era ela. Ela voltara, ela estava ali, na portaria. A merda é que eu não tinha comprado anel nenhum, então como a pediria em casamento? De qualquer maneira, corri para o banheiro e bochechei com um listerine, vai ver isso me socorresse depois da falha do anel. “Ding-dong”. A campainha. Olhei pelo olho mágico e observei durante um tempo seu rosto. Por que ela parecia mais bonita a cada segundo que passava? Por que, depois de tanto tempo, aquele sorriso ainda me motivava a acordar e viver? Por que eu refletia sobre minha vida e simplesmente não atendia a porta? Respirei e então, abri.
Seu rosto estava sereno, mas ele não me driblava. Ou melhor, suas mãos suadas não me enganavam. Sabia que ele estava ansioso ou que tinha sido pego de surpresa. Esse era meu intuito, não era? Era estranho e indescritivelmente perfeito como seu sorriso inclinado provocava estouros de efeitos loucos dentro de mim. O arrepio frio que percorreu minha espinha me arrancou o foco e não consegui expressar nem se quer uma palavra. Aquilo era uma prova de que ele, de fato, era a única pessoa que podia me completar. Era ele e disso eu não tinha duvida.
- Oi Júlia, eu... não esperava.
- Desculpa se eu apareci sem avisar, mas eu precisava falar com você depois do que aconteceu hoje.
- Júlia, eu acho que se alguém deve alguma explicação sobre alguma coisa, esse alguém sou eu. Por favor, entre, vamos conversar com calma, tudo bem?
- Tá, tudo bem.
Sentamos-nos no sofá da sala. Pensei no que dizer e como dizer. Mas tudo o que se passava pela minha cabeça era que ela viera justamente pra dizer que estava partindo e que tudo isso havia sido só mais um erro cometido. E eu não iria deixar. Eu não seria capaz de aceitar que minha felicidade caminhasse solta por aí, num lugar onde, mesmo que eu quisesse, eu não pudesse buscá-la, pois ela continuaria fugindo e fugindo até se esconder num beco onde eu não conseguiria mais achá-la. Não dessa vez, não enquanto eu estivesse vivo e diante dela. Não permitiria.
- Eu tenho pensado muito a respeito de nós dois e eu acho que está mais do que na hora de te falar.
- Júlia, você não pode fazer isso comigo. Você não pode simplesmente fugir de novo como se nada tivesse acontecido. Porra, eu te amo! Será que você consegue entender isso? Eu te amo! Mais do que a mim mesmo.
- Eu não vou a lugar nenhum, Michel! Eu, aliás, estou justamente aqui pra te dizer por que fugi uma vez e não posso mais fazer isso.
- Então me fala, porque eu me pergunto isso há mais de 20 anos!
Estava tremula, sabia que iria gaguejar. Sabia que aquele era o único momento que eu tinha pra desabafar tudo aquilo que eu deixara guardado por tanto tempo. Qual seria sua reação, afinal? Ele me amava, então entenderia que eu fizera tudo aquilo antes porque sentira dor. Aconteceu tudo tão de repente na minha vida que eu mal pudera administrar tudo ao mesmo tempo. Deixei tantas coisas acontecerem sem perceber.
- Michel, no dia 4 de fevereiro de 1989, quando você me contou que tinha me traído com aquela garota, meu mundo simplesmente acabou. E eu não estou falando isso porque eu era adolescente e tudo parece mil vezes pior quando se é jovem. Eu to falando isso, porque o motivo que me fez não querer mais olhar na sua cara e me obrigou a fugir, é que eu tinha acabado de descobrir que eu estava grávida de você.
- Júlia! Você esta me dizendo que você estava grávida de mim quando fugiu? Como assim?
- Como assim? Você está louco? Porque eu não podia conviver com o fato de ter um filho seu e saber que você não me amava! Porque eu não conseguia aceitar que durante tanto tempo eu tinha sido uma idiota! Você não me amava e isso estava tão na cara pra mim. Michel, eu era louca por você, eu sou louca por você. E você nunca fez nada a respeito disso!
- Júlia, calma, espera. Cadê o meu filho? Eu quero vê-lo! Não acredito que você não permitiu que eu participasse da vida dessa criança!
- Essa criança fez 20 anos em novembro. Ele mora comigo. O nome dele é Lucas. Não permiti que você participasse da vida dele porque tive medo de você decepcioná-lo, assim como você me decepcionou!
Os pêlos do meu ante-braço se eriçaram. Meus olhos se arregalaram, minhas mãos suaram em bicas. Minhas lagrimas percorreram minhas bochechas e finalmente tocaram minha boca aberta. Não havia saliva alguma, apenas as palpitações de meu coração na garganta. Não tinha palavras para descrever o que se passara comigo naqueles últimos instantes. Nunca pensei que fosse tão difícil assim descobrir que desconhecia mais de mim mesmo do que imaginava. Eu nunca pensei que aquelas palavras sairiam naquele momento e que a sinceridade delas pudesse me atingir tanto.
- Eu não vou decepcioná-lo, eu preciso vê-lo! Júlia, pelo amor de Deus. Eu passei o dia inteiro pensando em como eu falaria com você hoje e agora que eu estou diante de você eu não consigo dizer nada! Eu não posso mais viver sem você. Eu não quero mais ter que me afastar de você...
- Mas Michel...
- Não fala nada! Espera, se não eu não vou conseguir.
-Diga.
- Júlia, você aceita se casar comigo? Criar nosso Lucas juntos, e de verdade. Viver os 20 anos que desperdiçamos. Viver o nosso amor, porque, Júlia, eu sinto que o nosso momento pra ser feliz é agora. É agora.


A única coisa que eu consegui fazer foi levantar daquele sofá, sem reação. Lembranças antigas cruzaram meus olhos ao piscar e senti uma fisgada no peito. A quem eu queria enganar?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Como Um Castelo De Cartas De Baralho

Minha loucura e minha sanidade não irão guerrear para me sujeitar a encontrar um instante de realidade neste momento. É tão bom fantasiar com coisas que juramos que podem acontecer ou que já estejam acontecendo. É tão pratico acreditar no mundo que só nossos olhos podem ver. É tão nítida a sensação de estar vivendo algo intenso. É tão.. .real.
E é nessas horas que chega algum imbecil, te belisca e te desperta da mais perfeita ilusão que você já teve. Nesses momentos onde seu “eu” não precisa e não deseja estar em outro lugar. Você acorda, se encontra com a sua real vida, e desmonta.
Mas vai ver é assim mesmo e eu estou apenas - mais uma vez - delirando.