Queria sair. Dar uma passeada pela rua. Encarar paisagens cotidianas com olhos abismados e aquecidos. Dizer “bom dia” para aqueles com quem simpatizo e também para aqueles que devo ser educada, sem achar que isso é a maior hipocrisia que existe. Gostaria de cantar bem alto uma musica que gosto muito, desafinar e não poder ser ouvida por ninguém. Queria poder fazer caricias em coisas abstratas, porque é a única maneira que conheço de demonstrar que as admiro.
Voltar pra casa, deitar na minha cama e assistir meu programa preferido, sem precisar me importar com nada alem do ângulo da minha televisão. Dar risadas de coisas clichês, chorar assistindo um clássico qualquer. Comer um bombom, quem sabe até dois, sem sentir um pingo arrependimento nas horas seguintes. Olhar a vista ridícula da janela do meu quarto e encontrar nela algo que aprecio. Assistir a chuva molhar o telhado, os carros e o chão. Poder voar também, mas não a ponto de ter medo da altura.
Eu poderia chorar litros agora mesmo, mas sei que isso não mataria a sede da minha magoa. Poderia correr e me esconder, mas isso não me deslocaria desse mundo.
Fiz do deserto um grande rio. Fiz da sede uma razão pra viver. Das mágoas fiz magia, das lágrimas fiz perdão. Do calor fiz energia e da onda fiz um porto seguro. Da solidão fiz amizade e de tristeza fiz sinceridade. Da chuva eu fiz lembranças e das cicatrizes fiz poemas. Da dor fiz prazer e da ansiedade fiz tempo. Das incertezas fiz caminhos e da saudade fiz carinho.
Só não posso me refazer.