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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Melhor Que Não
O tempo realmente não estava muito bom, as nuvens estavam carregadas o bastante pra me fazer acreditar que logo cairia um temporal. Os relógios da cidade não marcavam um horário muito compatível com o que eu imaginava. Não vi ninguém passar por ali, nem mesmo vultos sem cheiros. Nem se quer um cachorrinho passou por aqui nessas ultimas 10 horas. Acho que estão todos dormindo. Ou comemorando algo, de alguma maneira. A cidade estava pintada de branco, e no asfalto, um mar de papeizinhos prateados cobria a rua. Tudo o que via eram algumas garrafas de bebidas e copos espalhados por todos os cantos. Algumas fitinhas do conde de Bonfim também deitavam no chão sujo do bairro. Esperei sentado, calado, observando a barra da minha calça branca encostar o chão molhado da chuva. Alguns pingos fizeram meus olhos piscarem tantas vezes, que cheguei a confundir de onde vinha tanta água. Eu segurava um copo do champagne mais caro da cidade em uma mão, e o cigarro mais forte em outra. Chorei mesmo, sem prender nem uma lágrima. Tava mesmo pensando dos dias passando muito rápido, do meu rosto ganhando uma ruga por mês. Talvez isso que me deixara tão triste. Mas triste mesmo, e talvez a grande razão desse choro maldito, era saber que nada do que eu já havia passado até então, poderia ser tomado de volta. Aprendi que precisamos perder muitas vezes antes de saber ganhar qualquer coisa. E cheguei a refletir se já tinha perdido o bastante para sem capaz de, finalmente, ganhar algo da vida em troca. Conclui que não, ainda havia muito a aprender.
Um pingo desceu devagar meu rosto, e agradeci em voz alta por algo estar me acariciando naquele momento solitário. Tirei a mochila das costas, colocando-a do meu lado. Precisava tirar um cochilo, mesmo que este fosse no meio da rua. Não queria voltar pra casa. Sentir-me-ia ainda mais solitário. Acabaria procurando - e vendo - certas coisas que não me fariam bem. Desisti da taça e apanhei a garrafa para beber no gargalo mesmo. Precisava ficar louco o bastante pra me lembrar como é que se lida com o vazio de um pensamento. Queria lembrar como era mesmo aquele tom de pele, e tudo ligado a ele. Desmanchei esses pensamentos logo que eles surgiram. Eu estava bem, não precisava deles, precisava? Bebi mais alguns goles, tudo tinha ido embora tão rápido, que me esqueci de quase todas as despedidas. Quis correr algumas quadras, quis morar no meio fio, quis chorar algo alcoólico. Quis dormir, no seu colo. Quis dizer adeus pra uma vida, quis mergulhar de corpo e alma no mar aberto. Era tudo uma grande viagem. Pensei ter feito tudo isso, e isto já me fazia satisfeito. Não sai do lugar, continuei em meus profundos goles.
Não sou mais aquela pessoa de sorrisos forçados e choros teatrais. O final feliz meio que foi se perdendo no meio dessa historia toda e achou melhor nem existir. Eu não o culpo, eu mesmo não trabalhei para que ele me acompanhasse até quando fosse preciso. Desperdicei tantas coisas ao longo do caminho, por pouco não deixo de lado tudo aquilo que sou. Por pouco, eu não sobrevivo e chego até aqui. Ah, eu odeio viradas de ano. Comemora-se um novo ano, sem mesmo saber se ele prestará pra colocar um sorriso em nosso rosto. O meu se foi há tanto, que nem me lembro como é sua aparência.
O relógio marcava cinco para meia noite. Estava chegando, e em mim a única coisa que ainda persistia existir era uma enorme falta de vontade. De viver, talvez. De amar, os outros e a mim mesmo. Também queria estar festejando estourando garrafas no meio de uma rua lotada com pessoas que eu provavelmente nunca mais iria ver na minha vida. Mas preferi guardar esses últimos minutos pra mim. Eu realmente precisava deles. Talvez muito mais do que eles precisavam de mim. Mais álcool, outro cigarro. Beijei minha própria mão. E por alguns instantes até desejei que ela estivesse dormente, só pra ter a sensação de estar beijando a mão de outra pessoa. Qualquer outra pessoa. Ri de mim mesmo ao pensar nessa bobagem. Tentei me recordar quando tinha sido a ultima vez que tinha rido com tanta sinceridade. Não me lembrei.
Um minuto. Fechei os olhos, e com os dedos entrelaçados no meu amigo Diadema Diamante, fiz o meu pedido mais elaborado. Gritei o meu pedido, esperando que alguém pudesse ouvi-lo, e quem sabe até realizá-lo.
Minha voz fez um eco melancólico. Só deu tempo de dar um sorriso libertador. E mais um gole.
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Um pingo desceu devagar meu rosto, e agradeci em voz alta por algo estar me acariciando naquele momento solitário. Tirei a mochila das costas, colocando-a do meu lado. Precisava tirar um cochilo, mesmo que este fosse no meio da rua. Não queria voltar pra casa. Sentir-me-ia ainda mais solitário. Acabaria procurando - e vendo - certas coisas que não me fariam bem. Desisti da taça e apanhei a garrafa para beber no gargalo mesmo. Precisava ficar louco o bastante pra me lembrar como é que se lida com o vazio de um pensamento. Queria lembrar como era mesmo aquele tom de pele, e tudo ligado a ele. Desmanchei esses pensamentos logo que eles surgiram. Eu estava bem, não precisava deles, precisava? Bebi mais alguns goles, tudo tinha ido embora tão rápido, que me esqueci de quase todas as despedidas. Quis correr algumas quadras, quis morar no meio fio, quis chorar algo alcoólico. Quis dormir, no seu colo. Quis dizer adeus pra uma vida, quis mergulhar de corpo e alma no mar aberto. Era tudo uma grande viagem. Pensei ter feito tudo isso, e isto já me fazia satisfeito. Não sai do lugar, continuei em meus profundos goles.
Não sou mais aquela pessoa de sorrisos forçados e choros teatrais. O final feliz meio que foi se perdendo no meio dessa historia toda e achou melhor nem existir. Eu não o culpo, eu mesmo não trabalhei para que ele me acompanhasse até quando fosse preciso. Desperdicei tantas coisas ao longo do caminho, por pouco não deixo de lado tudo aquilo que sou. Por pouco, eu não sobrevivo e chego até aqui. Ah, eu odeio viradas de ano. Comemora-se um novo ano, sem mesmo saber se ele prestará pra colocar um sorriso em nosso rosto. O meu se foi há tanto, que nem me lembro como é sua aparência.
O relógio marcava cinco para meia noite. Estava chegando, e em mim a única coisa que ainda persistia existir era uma enorme falta de vontade. De viver, talvez. De amar, os outros e a mim mesmo. Também queria estar festejando estourando garrafas no meio de uma rua lotada com pessoas que eu provavelmente nunca mais iria ver na minha vida. Mas preferi guardar esses últimos minutos pra mim. Eu realmente precisava deles. Talvez muito mais do que eles precisavam de mim. Mais álcool, outro cigarro. Beijei minha própria mão. E por alguns instantes até desejei que ela estivesse dormente, só pra ter a sensação de estar beijando a mão de outra pessoa. Qualquer outra pessoa. Ri de mim mesmo ao pensar nessa bobagem. Tentei me recordar quando tinha sido a ultima vez que tinha rido com tanta sinceridade. Não me lembrei.
Um minuto. Fechei os olhos, e com os dedos entrelaçados no meu amigo Diadema Diamante, fiz o meu pedido mais elaborado. Gritei o meu pedido, esperando que alguém pudesse ouvi-lo, e quem sabe até realizá-lo.
Minha voz fez um eco melancólico. Só deu tempo de dar um sorriso libertador. E mais um gole.
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Meu Codinome Beija-Flor. Só Meu.
Quando me vi, já estava lá filosofando comigo mesma, incrivelmente abismada com tamanha graça e ternura. Achei que eu fosse apenas um pássaro livre qualquer, mas de repente eu já estava encaixado em uma flor. Não era uma qualquer como eu, disso eu sempre soube. Entretanto, algo me fez voar pra longe, tão longe, que já nem poderia lhes dizer qual era gosto daquela florzinha.
Até sabia que algumas pétalas haviam sido arrancadas e que outras estavam murchas. Queria regá-la, mas nada podia fazer com toda aquela distancia. Conhecia seus planos, e nos meus sonhos, até ousei me incluir neles. Ah, como eu perdi minha cabeça...
Por culpa de uma tempestade, me abriguei no único bosque que tinha certeza estar a salvo. Por acaso, era o mesmo que temia encontrá-la.
E lá estava ela... tão desprotegida. A quem eu quero enganar? Eu também estava desacolhido e largado, muito mais que ela, acredito. Ao me aproximar, o meigo cheiro de seu pólen me extasiou e logo já estava me embriagando com seu sabor. Era tão doce, tão doce, que quanto mais me deliciava com tudo aquilo, mais algo amargo descia minha garganta. Era uma angústia inexplicável, mas não necessariamente ruim. Ah, tudo bem... eu estava com medo. Mais uma vez.
Quis tocar suas pétalas e poder cuidar delas do melhor jeito que pudesse. Era tudo muito frágil, e sabia que se algo acontecesse a ela, minha existência nada mais valeria. Mas me responde: o que é que eu sinto por você? Ou melhor, o que sente por mim? Ouvi você dizer que eu era exatamente tudo o que você sempre quis... mas acho que essa parte eu mesmo inventei e quis acreditar.
Senti meu coração bater quatro mil vezes em um só minuto, quando percebi que algo por ali era de certo modo recíproco. Não eram borboletas em minha barriga, eram apenas algumas milhões de historias nossas que haviam remexido meus sentimentos, eu estava completamente vulnerável. Completamente.
Ei, pássaros não falam. E isso não quer dizer que eles também não amem. O som do meu canto é muito agudo, e quase nulo. Mas, se por algum momento, alguém tentar ouvi-lo, o ouvirá com todo louvor e verá a pureza de cada tom. O problema é que a maioria das pessoas não se importa de verdade.
Sim, tudo isso foi apenas uma florzinha arrancada de um buque de flores maiores que me ensinou. E eu só queria estar ao lado dela, segurando delicadamente seu corpo.
Enquanto esperava seus olhos fecharem e ela cair num sono profundo, imaginei como seria no dia seguinte, quando ela não mais estivesse ao meu alcance.
Expliquem a ela, por favor, que essa de “um dia a gente se vê”, não serve pra mim.
Não há necessidade de ver o tempo passar... nem de ficar tentando fazer ele parar, ou voltar.
Reencontrei, e agora não se teria a mesma capacidade de voar.
Pra longe, por acaso...
"Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom, e me assustei... não sou perfeito, eu não esqueço. A riqueza que nós temos, ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir"
Até sabia que algumas pétalas haviam sido arrancadas e que outras estavam murchas. Queria regá-la, mas nada podia fazer com toda aquela distancia. Conhecia seus planos, e nos meus sonhos, até ousei me incluir neles. Ah, como eu perdi minha cabeça...
Por culpa de uma tempestade, me abriguei no único bosque que tinha certeza estar a salvo. Por acaso, era o mesmo que temia encontrá-la.
E lá estava ela... tão desprotegida. A quem eu quero enganar? Eu também estava desacolhido e largado, muito mais que ela, acredito. Ao me aproximar, o meigo cheiro de seu pólen me extasiou e logo já estava me embriagando com seu sabor. Era tão doce, tão doce, que quanto mais me deliciava com tudo aquilo, mais algo amargo descia minha garganta. Era uma angústia inexplicável, mas não necessariamente ruim. Ah, tudo bem... eu estava com medo. Mais uma vez.
Quis tocar suas pétalas e poder cuidar delas do melhor jeito que pudesse. Era tudo muito frágil, e sabia que se algo acontecesse a ela, minha existência nada mais valeria. Mas me responde: o que é que eu sinto por você? Ou melhor, o que sente por mim? Ouvi você dizer que eu era exatamente tudo o que você sempre quis... mas acho que essa parte eu mesmo inventei e quis acreditar.
Senti meu coração bater quatro mil vezes em um só minuto, quando percebi que algo por ali era de certo modo recíproco. Não eram borboletas em minha barriga, eram apenas algumas milhões de historias nossas que haviam remexido meus sentimentos, eu estava completamente vulnerável. Completamente.
Ei, pássaros não falam. E isso não quer dizer que eles também não amem. O som do meu canto é muito agudo, e quase nulo. Mas, se por algum momento, alguém tentar ouvi-lo, o ouvirá com todo louvor e verá a pureza de cada tom. O problema é que a maioria das pessoas não se importa de verdade.
Sim, tudo isso foi apenas uma florzinha arrancada de um buque de flores maiores que me ensinou. E eu só queria estar ao lado dela, segurando delicadamente seu corpo.
Enquanto esperava seus olhos fecharem e ela cair num sono profundo, imaginei como seria no dia seguinte, quando ela não mais estivesse ao meu alcance.
Expliquem a ela, por favor, que essa de “um dia a gente se vê”, não serve pra mim.
Não há necessidade de ver o tempo passar... nem de ficar tentando fazer ele parar, ou voltar.
Reencontrei, e agora não se teria a mesma capacidade de voar.
Pra longe, por acaso...
"Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom, e me assustei... não sou perfeito, eu não esqueço. A riqueza que nós temos, ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir"
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