Abri os olhos. Lembrei de uma piada. Mas não ri, achei por um instante que não via mais graça nenhuma na vida. Fechei os olhos. Lembrei de um rosto. Desses que a gente só vê mesmo em sonhos. Eu me apaixonei enquanto dormia. Isso foi há três semanas. Não foi a primeira vez que vivi uma vida inteira em um sonho. Infelizmente não me lembrei da última vez que isso aconteceu. Talvez nem queria lembrar. Me assusta muito todas as coisas que eu desconheço. Você foi uma delas. A que eu menos conheci, ou reconheci.
MAS, ESPERA. Quando eu falo “você”, não falo Dela, não. Dela eu não quero mais falar, acho que já falei demais com as paredes. Quando falo de “você”, me refiro a menina com a qual sonhei naquela noite. Lembro de tudo, como se aquilo realmente estivesse acontecendo. Como se eu realmente estivesse presenciando aquele sentimento. Como se ele também fosse parte da minha realidade. Pude sentir tudo, exatamente como senti da primeira vez, sem nenhuma mudança. Mentira. A diferença era por quem eu estava sentindo aquilo tudo. Aquela multidão insensata e mal educada de sentimentos me atropelou de novo. Não chorei.
Era tudo tão verdadeiro, que me tirou a certeza de ter virado de vez alguém sem sentimentos. Eu sei que eles ainda existem, mesmo completamente soterrados na minha carne. Eu acreditei, durante aqueles minutos, que estava curada.
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O alarme tocou, no instante que antecedia uma declaraçao sua. Gostaria de ter ouvido, queria tanto saber da minha reação... Estou perdida em mim mesma e queria que ninguém percebesse isso. Mas agora é tarde, estou sendo desmascarada. E isso me dá medo. Quando eles descobrirem, espero que tenham a piedade de me contar como é que eu vim parar aqui. Escrevendo coisas que só fazem sentido pra mim. Coisas que não fazem o menor sentido pra mim. Coisas que simplesmente vão surgindo na minha cabeça. Coisas que se contradizem o tempo todo.
REGRETS
Mas mais do que qualquer coisa, os meus medos. Acho que esse é o meu maior medo: ter medo. De mim, de você, do que eu – não – sinto. Do que eu perdi. Do que não volta. Dela.
Medo de simplesmente não ser capaz de amar. De não encontrar alguém para amar.
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Acordar, e perceber que tudo foi um sonho bem sonhado. Um pesadelo (des)temido. Uma história mal contada.
Imagina, haha, se de repente eu realmente acordo.
I M A G I N A: já passou por algum momento na sua vida que você pensou “eu não quero que isso acabe nunca! Quero ficar exatamente aqui, com quem eu estou, fazendo o que eu estou fazendo e ponto”. E do nada, despercebidamente, o mundo deu uma cambalhota e mudou. Você nunca mais voltou para aquele lugar, nem nunca mais falou com aquela pessoa e ainda por cima nunca mais fez aquilo que gostava tanto? Não, não, pior! Nunca mais se sentiu exatamente do jeito que você estava sentido naquele momento?
Agora imagina que voce tenha por acaso adormecido naquele momento. E que tudo que voce “viveu” depois daquilo foi um sonho. Melhor, um pesadelo.
E se nada do que você está vivendo agora fosse real? E de repente o seu alarme tocasse, alguém te ligasse, alguém gritasse pelo seu nome e você acordasse.
E eu acordasse. E nesse mesmo instante tudo viesse a tona. Meus sentimentos de volta, meu amor, minha coragem, minha vida...
O nome disso é mind fucking yourself. Iria ser uma loucura. Você realmente daria muito mais valor para aquele momento, tenho certeza. Talvez até choraria. De saudades, quem sabe. Mas uma saudade que teria sido alimentada pela realidade. Você poderia matar as saudades daquele momento, daquela pessoa, daquilo que estava fazendo. Isso tudo sem ter ido a lugar algum. Apenas visitado seu subconsciente elaborado: a vida que viveu enquanto dormia. A vida que talvez você não quisesse viver.
E se você estiver dormindo ainda? E se eu estou dormindo ainda?
Talvez seja por isso que não sinto nada.
Acho que eu só quero matar as saudades.
Me ligue.
Me grite.
Por favor, só quero que alguém me acorde.
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