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terça-feira, 27 de julho de 2010

You Had Me, But I Never Had You

Cresci ouvindo você falar que eu não podia encostar nos cristais da sala, porque se eu quebrasse, você partiria meu crânio em quatro pedaços. Suas maluquices sempre me irritaram muito, mas nada comparado com as vezes que minha vida dependia de uma saída que você não permitiu. Poderia chorar lagrimas de sangue - como você dizia - que eu não iria. E mesmo com isso, de madrugada eu enrolava meu edredom com um travesseiro e uma manta, para dormir escondida no chão do seu quarto.
Cresci achando que eu não era, e nem tinha porque ser, a filha preferida. Afinal, eu não era tão comportada assim. Sempre fui do tipo que se recusava a fazer os deveres de casa e recebia anotações toda semana, e a que era advertida por ouvir musica durante as aulas de matemática. Não gostava de comer feijão e toda vez que eu tomava refrigerante te perguntava se eu podia beber as bolhinhas também. Jogava futebol com os meninos e me lambuzava na graxa do seu carro. Eu nunca achei divertido fazer a Barbie se casar com o Ken e ser feliz. Gostei sempre de emoções fortes.
Cresci acreditando que não havia nada de errado comigo até o dia que eu me encontrei apaixonada por alguém que eu não deveria estar. Durante muito tempo eu poupei de você certas coisas e acumulei tudo em mim. Eu não podia conversar com você sobre a garota que eu era apaixonada e eu sabia disso. Então, eu fui levando. Até que eu desiludi e morri por dentro. Passei muito tempo me preocupando com a dor que eu sentia e esqueci meus deveres. Fui morar com a minha avó, já que a nossa convivência ficava cada dia pior conforme você ia descobrindo coisas ao meu respeito.
Cresci sonhando em ser uma grande jogadora de basquete, até que meu médico me disse que eu era incapaz de praticar qualquer esporte que houvesse contato. Outro soco na cara. Você não ligou, pra você aquilo era só um passatempo pra mim, mas não era. Conheci um mundo novo, onde todos bebiam, fumavam e eram incrivelmente felizes. Aquilo me convidou e eu não pude recusar.
Cresci acreditando que cada minuto poderia ser mais feliz. Me apaixonei loucamente, de novo, por uma garota. E todo aquele tormento voltou. Você não ia aceitar e era o que eu esperava. Mais uma vez, você falhou. Eu revivi todo meu sofrimento de novo, sozinha. Eu quis correr, fugir, nunca mais olhar na sua cara. Mas eu sabia que isso não funcionaria. Então, eu me ocultei.
Estou aqui. Pedindo no mínimo desculpas pelas minhas atitudes impensadas e pelos meus sentimentos que você não consegue entender. Estou aqui, pra dizer, mais uma vez, que eu te amo, mãe.

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