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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Melhor Que Não

O tempo realmente não estava muito bom, as nuvens estavam carregadas o bastante pra me fazer acreditar que logo cairia um temporal. Os relógios da cidade não marcavam um horário muito compatível com o que eu imaginava. Não vi ninguém passar por ali, nem mesmo vultos sem cheiros. Nem se quer um cachorrinho passou por aqui nessas ultimas 10 horas. Acho que estão todos dormindo. Ou comemorando algo, de alguma maneira. A cidade estava pintada de branco, e no asfalto, um mar de papeizinhos prateados cobria a rua. Tudo o que via eram algumas garrafas de bebidas e copos espalhados por todos os cantos. Algumas fitinhas do conde de Bonfim também deitavam no chão sujo do bairro. Esperei sentado, calado, observando a barra da minha calça branca encostar o chão molhado da chuva. Alguns pingos fizeram meus olhos piscarem tantas vezes, que cheguei a confundir de onde vinha tanta água. Eu segurava um copo do champagne mais caro da cidade em uma mão, e o cigarro mais forte em outra. Chorei mesmo, sem prender nem uma lágrima. Tava mesmo pensando dos dias passando muito rápido, do meu rosto ganhando uma ruga por mês. Talvez isso que me deixara tão triste. Mas triste mesmo, e talvez a grande razão desse choro maldito, era saber que nada do que eu já havia passado até então, poderia ser tomado de volta. Aprendi que precisamos perder muitas vezes antes de saber ganhar qualquer coisa. E cheguei a refletir se já tinha perdido o bastante para sem capaz de, finalmente, ganhar algo da vida em troca. Conclui que não, ainda havia muito a aprender.
Um pingo desceu devagar meu rosto, e agradeci em voz alta por algo estar me acariciando naquele momento solitário. Tirei a mochila das costas, colocando-a do meu lado. Precisava tirar um cochilo, mesmo que este fosse no meio da rua. Não queria voltar pra casa. Sentir-me-ia ainda mais solitário. Acabaria procurando - e vendo - certas coisas que não me fariam bem. Desisti da taça e apanhei a garrafa para beber no gargalo mesmo. Precisava ficar louco o bastante pra me lembrar como é que se lida com o vazio de um pensamento. Queria lembrar como era mesmo aquele tom de pele, e tudo ligado a ele. Desmanchei esses pensamentos logo que eles surgiram. Eu estava bem, não precisava deles, precisava? Bebi mais alguns goles, tudo tinha ido embora tão rápido, que me esqueci de quase todas as despedidas. Quis correr algumas quadras, quis morar no meio fio, quis chorar algo alcoólico. Quis dormir, no seu colo. Quis dizer adeus pra uma vida, quis mergulhar de corpo e alma no mar aberto. Era tudo uma grande viagem. Pensei ter feito tudo isso, e isto já me fazia satisfeito. Não sai do lugar, continuei em meus profundos goles.
Não sou mais aquela pessoa de sorrisos forçados e choros teatrais. O final feliz meio que foi se perdendo no meio dessa historia toda e achou melhor nem existir. Eu não o culpo, eu mesmo não trabalhei para que ele me acompanhasse até quando fosse preciso. Desperdicei tantas coisas ao longo do caminho, por pouco não deixo de lado tudo aquilo que sou. Por pouco, eu não sobrevivo e chego até aqui. Ah, eu odeio viradas de ano. Comemora-se um novo ano, sem mesmo saber se ele prestará pra colocar um sorriso em nosso rosto. O meu se foi há tanto, que nem me lembro como é sua aparência.
O relógio marcava cinco para meia noite. Estava chegando, e em mim a única coisa que ainda persistia existir era uma enorme falta de vontade. De viver, talvez. De amar, os outros e a mim mesmo. Também queria estar festejando estourando garrafas no meio de uma rua lotada com pessoas que eu provavelmente nunca mais iria ver na minha vida. Mas preferi guardar esses últimos minutos pra mim. Eu realmente precisava deles. Talvez muito mais do que eles precisavam de mim. Mais álcool, outro cigarro. Beijei minha própria mão. E por alguns instantes até desejei que ela estivesse dormente, só pra ter a sensação de estar beijando a mão de outra pessoa. Qualquer outra pessoa. Ri de mim mesmo ao pensar nessa bobagem. Tentei me recordar quando tinha sido a ultima vez que tinha rido com tanta sinceridade. Não me lembrei.

Um minuto. Fechei os olhos, e com os dedos entrelaçados no meu amigo Diadema Diamante, fiz o meu pedido mais elaborado. Gritei o meu pedido, esperando que alguém pudesse ouvi-lo, e quem sabe até realizá-lo.




Minha voz fez um eco melancólico. Só deu tempo de dar um sorriso libertador. E mais um gole.





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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Meu Codinome Beija-Flor. Só Meu.

Quando me vi, já estava lá filosofando comigo mesma, incrivelmente abismada com tamanha graça e ternura. Achei que eu fosse apenas um pássaro livre qualquer, mas de repente eu já estava encaixado em uma flor. Não era uma qualquer como eu, disso eu sempre soube. Entretanto, algo me fez voar pra longe, tão longe, que já nem poderia lhes dizer qual era gosto daquela florzinha.
Até sabia que algumas pétalas haviam sido arrancadas e que outras estavam murchas. Queria regá-la, mas nada podia fazer com toda aquela distancia. Conhecia seus planos, e nos meus sonhos, até ousei me incluir neles. Ah, como eu perdi minha cabeça...
Por culpa de uma tempestade, me abriguei no único bosque que tinha certeza estar a salvo. Por acaso, era o mesmo que temia encontrá-la.
E lá estava ela... tão desprotegida. A quem eu quero enganar? Eu também estava desacolhido e largado, muito mais que ela, acredito. Ao me aproximar, o meigo cheiro de seu pólen me extasiou e logo já estava me embriagando com seu sabor. Era tão doce, tão doce, que quanto mais me deliciava com tudo aquilo, mais algo amargo descia minha garganta. Era uma angústia inexplicável, mas não necessariamente ruim. Ah, tudo bem... eu estava com medo. Mais uma vez.
Quis tocar suas pétalas e poder cuidar delas do melhor jeito que pudesse. Era tudo muito frágil, e sabia que se algo acontecesse a ela, minha existência nada mais valeria. Mas me responde: o que é que eu sinto por você? Ou melhor, o que sente por mim? Ouvi você dizer que eu era exatamente tudo o que você sempre quis... mas acho que essa parte eu mesmo inventei e quis acreditar.
Senti meu coração bater quatro mil vezes em um só minuto, quando percebi que algo por ali era de certo modo recíproco. Não eram borboletas em minha barriga, eram apenas algumas milhões de historias nossas que haviam remexido meus sentimentos, eu estava completamente vulnerável. Completamente.
Ei, pássaros não falam. E isso não quer dizer que eles também não amem. O som do meu canto é muito agudo, e quase nulo. Mas, se por algum momento, alguém tentar ouvi-lo, o ouvirá com todo louvor e verá a pureza de cada tom. O problema é que a maioria das pessoas não se importa de verdade.
Sim, tudo isso foi apenas uma florzinha arrancada de um buque de flores maiores que me ensinou. E eu só queria estar ao lado dela, segurando delicadamente seu corpo.
Enquanto esperava seus olhos fecharem e ela cair num sono profundo, imaginei como seria no dia seguinte, quando ela não mais estivesse ao meu alcance.
Expliquem a ela, por favor, que essa de “um dia a gente se vê”, não serve pra mim.
Não há necessidade de ver o tempo passar... nem de ficar tentando fazer ele parar, ou voltar.
Reencontrei, e agora não se teria a mesma capacidade de voar.
Pra longe, por acaso...

"Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom, e me assustei... não sou perfeito, eu não esqueço. A riqueza que nós temos, ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sonhos Voláteis e Imprecisos

Pessoas felizes, que davam as mãos umas as outras, sorriam despreocupadas ao saudar um novo dia que logo iria nascer. As plantas permaneciam descansadas e devidamente regadas, e seus frutos continuavam quietos, porém implorando para serem colhidos e apreciados. Parecia que as respostas já não eram mais necessárias, ninguém precisava delas naquele momento. Tudo que por ali era vivido, já era o bastante. Estava tudo no seu devido lugar.
Ah, eu também estava por lá. E olha que é bem difícil alguém azarado como eu, vagar por essas bandas. Eu quis, criei e pude ter você. A realidade do seu sorriso rebatendo o meu, era grande o suficiente para que eu pudesse me perder por alguns instantes. A sua beleza era incomum e verdadeira, e por querer muito as marcas de suas digitais tatuadas por todo meu corpo nu, me forcei a acreditar que era tudo de verdade.
E então logo estava você do mesmo modo, parada em minha frente, com sua expressão completa me encarando, me fazendo chorar. Não por tristeza, mas pela poesia sedutora da pele de seu rosto, perfeitamente imaginado e pintado. Eu quis sua aproximação, me esquecendo do poder de minhas vontades por ali, quando de repente seus lábios tocaram os meus num ritmo inesperado, fazendo daquele vazio algo inexistente.
O amor já não era mais tão impossível, e a dor que com ele vinha já não me parecia tão irreversível. Meus tormentos e minhas magoas haviam voado pra longe. A vontade de me entregar a algo conhecido, porém novo, era realmente muito excitante, principalmente quando voce que me despertava essa cobiça.
Já estou com saudades, porque me vi tendo que viver na ausência de algo que nem ao menos existe, mas que sei que necessito urgentemente. E enquanto meus olhos não são preenchidos da paz e do paraíso de sua presença e meus lábios ainda tiverem que dormir na falta dos seus, continuarei a escrever coisas que nunca serão lidas por ninguém.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Manual Do Esquecimento

Devo precisar escrever. Certas coisas fazemos por fazer, outras por dever, outras simplesmente por poder. Devo ter uma grande necessidade em fazer isso, que eu certamente não entenderei tão brevemente.

Um idoso cantou em meus ouvidos sábias palavras, que afirmavam em sua voz serena, que só esquecemos uma mulher quando a transformamos em literatura. Meu vazio se unificou com o pouco que me restava, ainda formando um quase nada. Achei que o tempo era o nosso grande amigo, e que era ele o único capaz de apagar – ou deixar falecer – qualquer coisa.

Passei vinte e cinco anos de minha vida esperando uma resposta para minhas dores e angustias solitárias, para as pequenas perguntas que dominavam o controle do meu corpo e da minha mente, e a solução era algo tão pequeno e pouco. Não é justo. É mentira.

Tentei milhões de vezes descrevê-lo, mas sempre havia uma falha. Eu realmente quis, achei que isso pudesse me libertar, mas eu não consegui dizer exatamente como que é. Pude dizer como meu corpo reagia, como o mundo girava e até tudo aquilo que eu queria que pudesse ser possível. Mas não posso, não sou capaz de descrever o amor em sua essência.

Descrever sentimentos não te torna alheia a eles. Não os faz menos presentes, talvez ate os faça mais intenso. E quando se ama, garanto que tudo é extremo. O grande problema não é ter de lidar com aquele sentimento concreto existente, mas sim com o medo inventado de que aquela será a ultima vez que iremos poder senti-lo. E esse medo, consome tudo aquilo que há de integro em nós até ir sumindo.
Acredite, ele some. E, mais que isso, você provavelmente irá encontrá-lo novamente em alguma outra história de amor.

Não suspire muito fundo. Existe ainda uma longa estrada pela frente, que vem instantaneamente junto à carência. E é aí que nos deparamos com outra coisa que a literatura não pode mudar: aquela saudade sem fundamento. Aquele vazio sem explicação, uma sensação de perda inteiramente relevante, mas que não nos desprendemos. Estar com a pessoa amada já não é o bastante e, ao mesmo tempo, estar sozinha parece muito insuficiente.

Logo em seguida nos lembramos que temos que viver, e como que se vive. Quando até aquela lembrança mais vaga já deu um jeito de partir, a vida cobra de nos mesmos uma revanche, e não podemos recusar. Acreditar que superamos de verdade talvez seja a parte mais difícil de tudo isso. Outros passam a desacreditar no amor, a ignorar o provável sentido da vida.

Na maioria das vezes, queremos desistir. Na minoria das vezes, lutamos pela felicidade.

Nas duas opções, de alguma maneira, levamos muitos tapas na cara. Seja da vida, do amor ou de nos mesmos.

Nesta terra maldita em que vivemos, não há tempo pra pensar, não há momento nenhum no qual podemos descansar, muito menos desistir de uma batalha só por se sentir cansado.

Imagine a vida como uma luta livre. Agora imagine isso dez vezes pior.

Se não nos levantamos, se não reagimos, se não nos mantermos firmes, nós veremos o breu da pancada e a pior escuridão: a derrota mansa e aceitada.


Juro pra vocês que felicidade existe. Eu já vi. Já ate senti e pude dar a alguém. Mas, quando a felicidade foge, por que não correr atrás dela? Ela implora pela nossa atenção.
Quando os dados forem lançados novamente, não cruzem os dedos ou rezem baixinho pelo canto da boca.


Apenas acreditem.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Frutos Extremamente Cômodos

Surpreenda-me. Retire qualquer vestígio de ar do meu peito. Deixe-me sem respostas prontas. Faça-me perder noites de sono pensando em você. Não me ligue, porque eu quero esperar incansavelmente suas ligações que não chegam.
Quero me lembrar daquela sensação de estar próximo de algo que não resisto e que preciso cuidar. Lembrar-me como que é perder ou se perder por alguém. Estar perto, colado, e ainda ter a impressão de que pode escapar.
Impressione-me. Guarde seus truques pra quando eu estiver desprevenida. Fale-me qualquer besteira sincera para que eu possa dormir sorridente. Fuja de vez em quando, porque às vezes faz bem sentir um pouquinho de saudades.
Quero sentir um calor na hora mais imprópria do dia, e poder dividi-lo. Espere-me por um minuto, é o que eu preciso para estar pronta. Há muito não penso nisso, há muito desacredito em coisas assim. Mas algo me faz querer mais. E querer mais, é querer isto. E isto, eu sei, é amor.
Abrace-me, me faça esquecer de que a vida é feita de tantas dores. Lembre-me de que podemos ser felizes livremente. Quero sua mão, vamos aproveitar enquanto o sol não está se pondo. E agora sorria, estamos a um passo do paraíso.

domingo, 14 de novembro de 2010

Ouvi você dizer "sim".
Depois achei que tivesse dito "não".

Só que acho que esqueci de me lembrar
que voce também poderia ter dito "talvez".

E, pra não ter dúvida, fiquei quieta.
E acabei "abrindo mão"



Merda.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu Fico Com A Saudade, Você Com Outro Alguém

Eu perdi toda a minha ingenuidade, porque eu me senti forçada a provar pra ela que eu era madura o suficiente pra me entregar. Eu avancei no tempo, vivi vidas em anos. Comecei tudo muito cedo, concluí tudo muito rápido, intensifiquei momentos ordinários. Eu chorei quando não senti angústia, e morri várias vezes quando descobri como é que a dor é de verdade. Virei doses e doses de tequila pra poder esquecer o jeito que ela me admirava, e acabei descobrindo que todos os porres que eu tomei quando queria esquecê-la, apenas me fizeram lembrar mais.
Eu abri mão do que eu achei ser menos importante, machuquei pessoas que eu nunca tive a intenção de magoar. Inventei na minha realidade um mundo de conto de fadas, com princesa, príncipe e vilões. E acabei nulo como ele, quando pude distinguir que sonhos também podem ser destruídos quando não cuidamos deles, assim como qualquer outra coisa. Sentia-me saudável o bastante para cruzar o oceano por ela, mas me afoguei ao entrar na água.
Eu poderia abraçá-la pelo resto de minha vida, se eu ainda tivesse forças para isso. Quando ela beijava meus lábios frios, milhões de perguntas sempre me apunhalavam. Acho que o que me fez perder a coragem, foi descobrir que assim como tudo, o amor também se vai, se consome e some... e as vezes até se encontra de novo. Sendo essa ultima a menos possível de acontecer.
Fui eu quem terminou com ela, quem correu e quem chorou abrigada no vão da escada. Em nenhum momento da minha vida o meu coração esteve tão pisado como naquele. Algo em mim dizia que eu precisava ir embora, e outra parte persistia pra que eu continuasse. Eu era uma criança, não era aquela pessoa madura que eu tentei ser. Não sei como se readquire pessoas quando elas acabam se afastando por vontade própria.
Mas agora passou. Nem mesmo eu estou acreditando que consegui superar. Eu construi uma capa protetora que só eu posso arrombar. Coloquei na minha cabeça que nunca mais vou sofrer por ninguém, e espero conseguir. Acontece que seus truques ordinários já não têm efeito sobre mim, e suas mentiras já não são o suficiente pra me sustentar... eu queria mesmo era algo de verdade, algo que eu já não acho que voce possa me dar. Então, acho que se foi e ninguém percebeu.
Eu me perdi, não descobri o obvio, e acreditei em todas as mentiras aceitáveis. Eu não vi, nem senti, e não quis acreditar quando ela disse que era pra valer. Acho que eu errei quando quis tentar ver através de um vidro negro. Ou quando eu acreditei que tudo o que ela dizia fazia sentido. Ei, eu não a quero mais... e sabe por que? Porque eu descobri que eu sou uma pessoa muito melhor quando estou bem longe. Quando eu estou distante, as coisas funcionam.
Estávamos mesmo medindo audácias diferentes. Ela queria amor e eu, liberdade. E tudo o que eu queria dependia do meu suor, e foi ai que eu descobri que sou fraca demais pra coisas ligadas ao que se refere a sentimentos.
Foi aí que eu vi, que eu precisava mesmo dar uma desvirtuada.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um Recado Para O Renato

Uns dizem que quem procura acha, e outros, que só achamos quando paramos de procurar. Estou num quebra-cabeça que não posso terminar, pois já perdi muitas peças. Prefiro acreditar que existe uma saída, porque sempre existe uma pra tudo. Sempre ouvi dizer que a saída somos nós mesmos. Olha, serei bem sincera. Eu revirei meus mundos, coloquei tudo de cabeça para baixo, derrubei promessas e construí muitos sonhos, e isso tudo pra descobrir que, na maioria das vezes, as palavras não significam absolutamente nada.
Eu também sempre precisei de um pouco de carinho, mas acho que o afastei tantas vezes, que hoje nem sei em qual mão procurá-lo. Eu também só quis tirar disso alguns sorrisos, algumas lembranças vagas, no entanto acho que acabei arrastando as coisas, desfazendo-as. Minha doença é incurável, pois a vejo em cada coisa que toco.
Amor já não me parece uma resposta convincente. Não acredito mais nele, não por enquanto. Ainda está tudo remexido, e como uma invenção de um sentimento sincero. Parece que alguma coisa tem mudado muito rápido aqui dentro.Pensamentos, momentos, instantes, pontadas, vergonhas, inseguranças, promessas, vozes, mulheres, carinhos, rancores, amores... tudo entrando na minha cabeça e sendo evacuado pela minha alma. Deveria ter acreditado quando disse que mentir é fácil demais.
Ninguém viu, tenho certeza. Acho que nem mesmo eu. Deveriam ter visto, quem sabe assim eles se sensibilizassem com meus planos. Eu nem tinha começado a viver, e já estavam todos lá, com metralhadoras nas mãos e olhos hostis. Era mesmo muito cedo, eu sei. Mas eu precisava jogar coisas no ventilador pra ver se as pessoas tirariam por um momento as mãos dos olhos, pra ver o mundo. Vocês são cegos e sem sentimentos, não é possível.
já não faz mais diferença se as coisas que sinto são vazias ou não, já que não há ninguém pra ouvir minhas historias sonolentas. O que eu quero não é um abraço, beijo, ou que segure meu rosto com os punhos firmes! Eu quero os sentimentos que acompanham eles, e quero muito. E eu quero agora. É, eu acho que era mesmo tudo em vão e ninguém sabia.
Também me partiram em dois, também ridicularizaram meus sentimentos. A pobreza deles não os faz serem banais, mas ingênuos demais. E longe estarão quando eu descobrir como se faz para vencê-los, ou achar as peças que faltam e até metade que se foi.
Lembre-se: quando somos derrotados em uma batalha, devemos mostrar a dor que sentimos e gritar pelos cortes feitos, e não se dizer forte e revidar. Acho que a maior vitoria que existe é estar no fundo do poço, no fim do mundo, e poder voltar.

"Essa saudade, eu sei de cor"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Let's Not Let A Good Thing Die

Você chegou do nada, atrapalhando o que já estava confuso. Fumando um cigarro de filtro amarelo, com ocasionais caretas após aquelas suas tragadas violentas. Revirando as coisas que aqui dentro já estavam bagunçadas por si só. Voce me trata de um jeito que eu não to acostumada, e me faz sentir coisas estranhas o tempo todo. Não estou preparada pra dizer nada, e fiz disso uma desculpa justa para não me mexer.E essa sensação de culpa me domina, mesmo eu tendo a certeza de que em nenhum momento deixei de ser verdadeira. Me dá um tempo pra respirar, preciso parar para entender bem o que tem acontecido. É que agora a indiferença tem maltratado um pouco, e que o estava apertado, passa a esmagar. Não diga mais nada por enquanto, porque talvez isso só confunda ou me machuque mais.Mas também não é pra sair assim, andando, como se não tivesse me visto em sua frente falando essas bobagens. Te beijaria, se isso me fizesse sentir mais próxima de algo que não existe - no entanto que imagino com tanta facilidade - mas sei que isso não me ajudaria em nada. Incomoda pensar que as mesmas coisas se repetem incansavelmente com pessoas distintas, e que tudo será diferente do que eu conheço. Cansei de ser colorida, e de repente transparente e invisível para você. Diga-me que somos mais fortes que isso, amigo. Preciso ouvir de você!

“I can`t walk out, because I love you too much, baby”

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Piração do Iniciante

Tenho medo desse sentimento. Não sei com que propósito veio, nem se pretende ficar aqui por muito tempo. Mas sei - e é isso que mais temo - que ele já está me dominando.
Mas espera aí! Não foi pra isso que meu corpo foi configurado, e nem é este o meu objetivo na terra. Não deveria sentir isso. E por ser tão forte e doente o que sinto, acredito que seja isto o que esteja me completando neste momento de infinito abandono. Gostaria de poder ouvir músicas antes de dormir, sem que isso me tirasse o sono.
Sua pele é lisa demais e sua boca, chamativa demais. Meus olhos desacostumaram a pousar em outros bosques. Meu coração se esconde mesmo apreensivo, como se não quisesse enxergar o que está por vir. Meus braços confusos se cruzam no vento e no vazio do meu redor. Sinto frio nos dedos.
Preciso me libertar, encontrar meu momento de lucidez. Mas de alguma maneira inexplicável meus desejos voam descontrolados quando te vêem. Não posso. Preciso manter minhas mãos fortemente fechadas para que a impulsividade de meus sentidos não me deixe constrangida. Não posso apenas tocá-la por tocar, seria um desperdício.
Caindo, rolando e rastejando. Como se meus próprios passos armassem armadilhas perfeitas, como se meu próprio corpo sentisse uma pontinha de felicidade ao se espatifar no chão. Como se tapas e socos apenas massageassem a pele gasta do meu rosto. Mesmo cansada, não sei como posso reagir.
O amor não é algo que possa ser medido, então parem de ficar comparando-o. Só existe um tipo. E, te confesso, não sei por onde ele anda! Minha cabeça gira, e ao olhar o que me cerca, percebo que já não há mais lugar algum no qual eu ainda eu possa me apoiar, nem que por poucos segundos.
Não posso exigir das pessoas que elas tenham caráter. Não posso – feliz ou infelizmente – moldá-las ao meu favor. Mas seria interessante se existissem aqueles tão famosos abraços, promessas e beijos sinceros. Talvez assim eu não acordasse desapontada no meio da madrugada, com a cabeça encostada no travesseiro úmido, com a sensação de que algo se foi.
Quando foi que eu pedi mais do que deveria? Acho que perdi o trem, e que acabei também me perdendo na estação. Esqueci pra onde eu ia e as malas no porta malas do taxi. Ou talvez eu só tenha esquecido que certas promessas não existem e que palavras são cuspidas o tempo todo por todo mundo.
Cansei de vagar desesperada atrás de coisas banais. O que tem acontecido com as pessoas? Será que ninguém se respeita mais? Volta pra me confortar com seus braços magros, mas só se for pra ser de verdade. Porque se não, o melhor que faço é aguardar até que o tempo me deixe recuperar algo que eu tenha deixado cair.
O vi passar. Juro que vi. Aparentava apressado e perdido. Talvez estivesse fugindo, ou quem sabe desesperado atrás de quem o possuía. Ah, é o amor... sempre nos deixando tontos ao tentar acompanhá-lo na sua agilidade maldita. Vai ver nós devêssemos simplesmente parar de tentar. Sim, deixar ele vir ao nosso encontro por acaso.
Mas quem foi que disse que se agüenta esperar quando seu coração mal bate de tão apertado, ou quando se está arrepiada numa noite de frio? Ou até mesmo quando nos pegamos chorando na pia do banheiro do bar, com a maquiagem borrada? Ele deveria ser menos cruel, concluo.
Melhor, deveria vir agora. Sem mais cuidados. Atingir meu peito no mais profundo e doloroso corte, para eu ter certeza de que ele não irá escapar. De vez. Permanecer aqui, tomar conta de mim, quando tudo o que tenho é aquele sentimento estranho, confuso. Diferente. Que não se pode nem se chamar de amor, nem de nada. Ah, eu não deveria estar sentindo isso...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DESCULPE O TRANSTORNO

Queridos Leitores,
O Blog ficará durante algum tempo sem postagens!
Obrigada.



À Direção.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Conto Ao Contrário

Caminhando, indo sem rumo. Com os pés descalços, pisando em pequenas poças de chuva e suor e piscina e bebida...! Tão descontraída e amável. Em minha direção, falando como são admiráveis os meus cabelos e como se simpatiza com meu gênio. Ah, para com isso. Não posso ouvir o que tem a dizer... sou quebradiça demais. Você é a protagonista dos meus sonhos, dos meus delírios mais loucos, os quais não sei mais lidar. De vez em quando eu te provoco só para saber até onde você pode suportar. Mas no fundo, eu te quero aqui, bem perto de mim. Com os seus braços em volta das minhas costas despidas. Eu estou aqui hoje por ela, mas, meu amor, muito mais por você. E espero que não se importe com isso. Um beijo...estou embriagada mesmo, e você está bem encantadora hoje. Como sempre.
Pés molhados, bocas molhadas, testas molhadas. Ah, como eu queria mais alguns minutos aqui. Seus lábios me invadem, e eu adoro o jeito que você dança. Línguas, lábios, salivas, desejos. Só mais cinco minutinhos. Preciso aproveitar este momento. Tremer agora me faz lembrar como fico entorpecida diante dos seus feitiços. Você é uma pirralha. E mesmo assim, não consigo me afastar nem por um segundo do aroma da sua nuca. Traga-me a vida de novo.
Mantenha-me protegida por dentro, pois mesmo que eu não lhe dê essa segurança, eu preciso tê-la vinda de você. E eu ouvi falar que você está super bem, que não pensa mais em mim. Moedas, bilhetes, chicletes e meu celular tocando. Ah, mas quem me liga? Deixe-me viver esse momento, pela única vez que poderei. Tentei voltar, me explicar, mas você já não estava lá no escuro, nem no molhado. Em nenhum lugar. Cerveja, boldo, bala, tequila... e você de longe no mesmo estágio que eu. Tão perto, que me fez esquecer o quão fora do meu alcance está. Ah, e eu chorei, muito. E te fiz acreditar que era por outro motivo. Meu amor, agora eu estou indo. Pra outra cidade, pra fora da sua realidade.
Não, não, não... não quero olhar pra sua face afetuosa, ingênua, suave e linda. É disso que mais preciso me desprender.

sábado, 4 de setembro de 2010

Via Sacra

Estão todos gritando comigo. Tanto a ponto de eu não mais ser capaz de escutá-los. O que há de errado comigo agora? Talvez eu ainda esteja trocando os pés enquanto ando. Temo as conseqüências, por isso sempre adio sua chegada. Parem um pouco de olhar só para meus olhos derrotados e para a instabilidade de minhas pernas. Não sou perfeita, e ainda não tenho a fórmula mágica que possa me transformar em algo ideal para todos. Eu sou assim. E se já parou pra ouvir algo que eu tinha a dizer, talvez já devesse ter um antídoto para meus efeitos. Não sou cabeça dura. Apenas não sei como posso mudar meu jeito de ser. E acho que não sou a única. Não posso me obrigar a fazer o que não acho certo, nem proteger algo que desacredito. Também não sei como segurar minha impulsividade para não fazer coisas de momento. Não sei! Desculpa se eu não sei como se faz para inverter certas situações, ou até mesmo para blindar os outros dos resultados delas.
Eu não sou totalmente inocente nas minhas atitudes. Mas também não sou a única culpada. Somos todos vitimas de circunstâncias maldosas. Gostaria de ter ditos coisas que hoje vejo que não faziam sentido esconder, e também ter recolhido palavras que saíram impensadas. E como tantas outras coisas que não se pode consertar, o tempo vai voando despedaçado e melancólico. Não posso recuar, não posso avançar, não posso interferir na sua existência. Só posso ser guiada – ou perdida – por ele. E quanto a isso, nada posso fazer além de tentar alcançá-lo com minhas pernas dormentes. E nem isso eu consigo mais...
Chega de gritos histéricos perturbando o meu pensar. Preciso de calma para poder construir em mim uma estrutura sólida o bastante para não desmoronar. A altura do seu tom de voz não me faz escutar melhor o que diz. Pelo contrário, me faz cada vez mais não querer saber o que está dizendo. E não venha com essa sua hipocrisia barata para cima de mim. Eu sou humana. Eu erro, choro, sinto, e ainda sou mortal. Situações como esta não machucam a minha carne, porém, muito pior que isso, estraçalham minha alma. Me mostram minhas fraquezas e as expõem aos seus limites, mostram meus piores erros e os colocam em evidencia. Pegam meus sentimentos mais sinceros e delicados e os colocam a prova de fogo. Mostram a mim mesma, o pior lado que tenho e esfregam em minha cara. E enquanto isso, meu corpo permanece intacto. Sem nenhum corte, sem nenhum hematoma, sem nenhum vestígio. Continua aparentemente saudável, mesmo isso não significando absolutamente nada.
Perdoe-me pelos meus deslizes. Nem que esta seja a ultima vez que eu possa pedir misericórdia. Você adora dizer que eu sou orgulhosa, mas eu não sou tanto assim. estou admitindo um erro, e pedindo seu perdão. Existem certas coisas que são difíceis de falar, que machucam os outros, que são resultado de momentos egoístas. Eu fui atingida por um egotismo que nem eu mesma sabia que cultivava. E eu estou arrependida. Pensei no que fiz, no motivo que fiz, em que situação fiz, e analisei os fatos e suas conseqüências. E vi não valeu a pena. Enxerguei que estimei um valor para você que não era justo. Desvalorizei os seus sentimentos e suas conclusões lógicas. E agora irei remoer solitariamente esse final infeliz.
Me desculpe, fiz tudo errado de novo.






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E com o final esclarecido, fecho as cortinas. O sorriso de alguém da platéia pode me fazer acreditar que poderei me apresentar de outra maneira. Mas este sorriso está perdido. Só vejo braços cruzados e caras fechadas. Será que os fiz esquecer de minha essência?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ditos Empoeirados

Ando me sentindo um pouco idosa. Não exteriormente falando. É como se meus sentimentos estivessem desgastados, e tudo o que eu sentisse não me afetasse mais de maneira surpreendente. E mesmo conhecendo todo esse não-sentimento, ainda sinto algo frio em minha barriga. Tudo bem por mim, eu não espero nenhuma resposta disso. Do nada, a dor de ficar esperando certas coisas acontecerem fica menor. Até porque eu sei que eu não vou saber amar do jeito que eu deveria, e até gostaria. Eu sei que eu posso tentar ao máximo, mas também sei que não terei nenhum êxito. Mesmo que eu esteja precisando desesperadamente de amor nesse momento inoportuno, eu não o terei na sua forma mais perfeita e intensa. Então, pra que me enganar? Nada tem feito diferença, nada tem feito eu me sentir liberta da prisão de meus pensamentos. E não adianta me olhar com essa cara e dizer que sentiu saudades do meu cheiro ou do jeito que meus lábios tocam os seus. Eu não preciso disso. Não mais. Não vindo de você, assim, desse jeito. Você roubou minha consciência por alguns segundos, me fazendo acreditar que tudo o que eu precisava era você. Mas eu a retomei. E dessa vez não pretendo deixá-la escapar tão prontamente. E o mais impressionante é como você me fez cair em suas garras, até me acomodar. Eu não quero me acomodar! Nunca fui assim, e não há motivos para ser. Estar perto agora, só me faz querer fugir. E estar longe me faz querer procurar abrigo. E então, o que eu faço?
Existe algo em seus olhos que não me permite olhá-los a fundo. Você me dá arrepios. Mas eu não sou tão tola quanto eu pareço ser.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Frenesi

Sou tão incomum e ao mesmo tempo tão similar a todo o resto. É até engraçado quando certas vezes a gente se sente superior ou inferior ocasionalmente. Seria mais prático se toda essa babaquice que as pessoas acreditam, fosse transformada em outra coisa melhor. Amor, quem sabe. Ao menos respeito, para ser mais justa com os sem coração. Qualquer coisa que nos fizesse crescer um pouco mais, que não nos machucasse tanto. Me sinto até atraente quando passo minutos no espelho depois do banho penteando os meus cabelos úmidos. Secá-los durante meu instante vaidoso. Sentir o vento quente formigando meus ouvidos suavemente. Mas isso é o mais efêmero em mim no momento. Algo está faltando. Será que só eu percebo essas coisas? Eu não deveria estar aqui falando asneiras. Cadê? Quero encontrar algo que me sustende, que mantenha viva. Tem tanta gente que te vira as costas sem perceber. Às vezes é difícil mesmo notar que eu estou por aqui. Ah, mas isso não me parece correto, não! O tempo está passando loucamente. As pessoas, portanto, estão mudando mais rápido. De repente seu amor, é seu rancor. De repente uma saudade sem querer se transforma em repulsa... Eu estou sendo levada também. Sempre acontece de uma amizade virar coleguismo! Eu sei que isso acontece, já vi isso antes, e apesar de ser agora o momento em que eu mais preciso me apoiar, preciso prender o choro. Estamos num eterno desencontro. Rodopiando por aí, caindo sempre no mesmo lugar, no mesmo conflito, na mesma bobagem. E não adianta nem um pouco eu ter asas para voar se meus pés estão presos no chão. Chega disso, cadê aquilo que se passa a vida tentando cultivar, que se passa a vida remoendo por ter perdido? Como é que eu posso acreditar que eu estou completamente forte e disposta, com você me olhando tão vaziamente? Mas este é o meu ponto de vista, querida. E quanto a você? Veja só, agora está no meu lugar. Eu não acredito – e não entendo o motivo de minha descrença – que pense da mesma maneira que eu pensava quando estava por aí. Tudo esta bem. Estamos bem.

Olha para a gente... Não, não estamos!



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sábado, 14 de agosto de 2010

Derramado

Que formoso! Belo esse véu que usa. Que encobre seus cabelos lisos, de coloração, por mim, apreciada. Sua coroa é tão adequada a você, que parece ter sido feita sob encomenda. Sua maquiagem tão bem feita, tão carregada... a ponto de te fazer desconhecida por escassos instantes. Só quem te conhece tão bem poderia te reconhecer de cara. Até mesmo eu – que acho que te conheço - demorei. Tua aliança. Tão viva sobre as luzes fortes dos lustres da igreja. O detalhe do vestido, que parece ter sido feito pela melhor costureira da cidade. Seus passos, meigos como o modo que você segura seu buquê de rosas brancas. Sua pele, delicada como o contado que sua mão faz...em outra mão.
Esquece. Apaga tudo. Vamos reescrever essa prosa. Seus olhos nem ao menos brilham. Seus cabelos estão escondidos, é como se não fosse você. E essa coroa, você acha que realmente a merece? Olha pra cá, veja quem está aqui na terceira fileira de assentos. Do lado direito, pra ser mais exata. Sim, sou eu. Lembra de mim? Sua maquiagem não cobre aquilo tudo que já viveu. Não esconde suas mentiras ou suas piores manias. Não me faz esquecer os seus valores incompreensíveis. Você acha que uma aliança expressa alguma coisa? Eu não precisei de uma. Nem você nunca precisou. Acho que basta estar junto e se amar, não? Você realmente necessitava de uma? Estas luzes não te favorecem mais, noiva. Elas abismam os brilhos dos teus olhos e te deixam horrivelmente pálida. Ande direito. Não olhe pra trás, não. Isso talvez a faça parar no meio do tapete vermelho. Nem para o lado, se possível. Você é capaz de tropeçar. Essas rosas brancas ficarão murchas e você as jogará fora. Elas fenecerão. E nem venha me dizer que você sente algo em sua mão. Aquilo não é um aperto de mãos. Quem sabe aquilo não seja nem um contato.
Mas vai. Continua andando como se nada tivesse acontecido. Caminhe como se estivesse indo buscar frutas no bosque. Como se este fosse de fato seu fado. Segure firme este buquê, pois a sua fragrância talvez possa perfumar sua vida. Sem cair, por favor. Afinal, esta foi uma escolha sua. Não corte seus dedos com os espinhos da rosa. Não serei capaz de te ver sangrar.
Todos mudaram, eu sei. Eu vou continuar aqui, na terceira fileira, até o final da cerimônia. E enquanto isso vou me lembrar das coisas que nos fez rir muitas vezes, e chorar também. E enquanto eu estiver ouvindo suas juras de amor, vou me lembrar das nossas. Eram tão eternas pra mim, que dói. Mas olhe pra cá antes de dizer sim. Nem que seja pelo canto do olho. Precisamos de um ultimo contato visual. Antes de aceitar, se relembre de tudo aquilo que eu recordei. Volte um passo para avançar esse, que vale como milhares.
E siga. Deixe seu coração comandar. Sinta o cheiro das flores, das velas queimando no altar, do perfume de todos ali presente. Escute seus batimentos cardíacos. Será que eles estão devidamente acelerados? Ou precisamente parados? E aí eu espero que responda com toda certeza que há em você. E siga... Sua intuição, seu coração, sua razão, seus perfumes, seus calores, seu amores, seu passado, seus passos, seu maior tropeço.
Apenas siga em frente.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Vai

Ai, até quando vou continuar submersa nos abismos da minha mente? Eu queria achar um asilo quente e cômodo onde meus sonhos não parecessem tão absurdos, mas só o que consigo é continuar me perdendo. Já não sei mais o que é o certo ou o errado. Ou até mesmo se estou aqui de verdade.
Nas minhas obscuridades tem sempre um espaço não preenchido onde você está. Me deixa tonta saber que eu não tenho como me desligar disso. É tão ruim me sentir inábil de alguma coisa, principalmente quando esta coisa implica em esquecer algo ou alguém. E aqui vou eu de novo voltar a falar de sentimentos idiotas.
Sabe o que é? Eu nunca mais vi nos olhos de ninguém a transparência e a verdade que eu via nos seus. Isso me inquieta muito, pois só aumenta minhas inseguranças em relação à vida. O futuro é tão hipotético e cheio de enigmas, que pensar nele me deixa louca. Não poder prever o dia de amanha é uma coisa apavorante!
E eu acredito que isso é que faz tanto as pessoas se vincularem a tudo aquilo que já aconteceu, porque o passado é a única certeza que temos. E o futuro é tudo aquilo que desconhecemos e tememos. Não consigo me desprender daquilo que passou. Não consigo esquecer os dias que vivi. E o que me deixa mais aborrecida é que me esqueço apenas daquilo que não faço questão de esquecer. Tudo o que não quero lembrar, vive martelando aqui dentro.
Sai daqui! Vai procurar outro lugar para ficar rodeando. Eu não quero te ter só nos meus pensamentos extravagantes. Alias, não quero mais de jeito algum. A única coisa vinda de você que ainda me agrada são lembranças. E lembranças não vão me alimentar o bastante para que eu continue viva. Elas só vão me manter mais afastada do mundo.
Já me perdi de novo. Já não sei onde comecei e nem por que comecei. Só sei que não vou chegar a lugar algum...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Isso Não É Um Adeus.

Não chore, não, menina. Tem certas coisas na vida que a gente não planeja, nem espera, e mesmo assim elas acontecem pra testar se somos fortes ou não. Não chora, não. Porque assim você me faz sofrer junto. Tem certas coisas que não se pode impedir, e que estão completamente fora do nosso controle. Talvez chorar pareça ser a melhor opção, mas não é! As lagrimas não fazem o tempo voltar, elas só nos relembram que ele passou. Eu nunca vou mentir pra você, menina.E por que eu faria isso? Então, acredite em mim quando eu te disser que amanhã vai estar tudo bem.
Não chora, não. Tente não passar tanto tempo sozinha, pois memórias podem vir à tona. E eu sei que elas podem lhe dar um aperto forte no coração. Seu momento de fraqueza vai passar e isso não significa que sua dor diminuirá, mas que ela poderá ter sido aquietada. Porém, se você estiver cansada de prender o choro, e sentir que não irá aquentar a pressão, me chama. Quem sabe só o que você precise seja um abraço? Eu espero que você saiba que tem muita gente por aqui para te acolher nos ombros. Quando você tiver certeza que não irá agüentar, me chama. Pode segurar minha mão o mais forte que precisar. Posso enxugar suas lágrimas a hora que quiser. Mas, por favor, tente não chorar, isso só irá corroer você por dentro. Tente não pensar que algo partiu, mesmo isso parecendo ser impossível. Lembre-se que ninguém foi embora. Ela está aqui ainda, menina. E irá olhar por você em cada passo que der, te protegendo. Ela está bem melhor do que você imagina. Isso é bom, não é? Então a deixe partir. Todos vamos, em algum momento. E vamos todos nos encontrar de novo. Porque, menina, a vida é feita de encontros e desencontros. Por isso ela é tão dolorosa.
Não chore, não, menina. Não posso te ver chorando...

sábado, 31 de julho de 2010

Me engano por engano o tempo todo

Eu pensei que aquele dia que eu te disse que eu necessitava de você pra viver, e você me respondeu dizendo que nunca iria partir, seria algo verdadeiro. Você não precisava prometer que iria ficar aqui pra vida toda, eu ia entender! Você mentiu.
Eu escrevo principalmente pra saber se consigo aprender com os meus próprios pensamentos. Mas de repente não existe mais nada dentro de mim no qual eu possa compartilhar comigo, é como se as coisas fossem desmanchando dentro de mim. Me sinto boba. A vida me parece tão morta e tão sem sentimentos. E às vezes é até engraçado como eu consigo me perder tanto nos meus próprios anseios. Enquanto os meus olhos te devoram de cima a baixo, eu me dou conta cada vez mais rápido, que o meu coração não agüentaria isso de novo. Eu não suportaria seu riso, nem as promessas sinceras que sairiam da sua boca. Seria demais pra mim, eu sei disso melhor que ninguém. Não se aproxima tanto, eu lhe peço. Não quero que seus sentimentos, assim como os meus, se desfaçam no meio de um caminho qualquer. Eu estou completamente atordoada, porque eu sei que o que eu quero é que você não se afaste. Eu não quero me separar de você, não quero esquecer como é o seu rosto ou de como você fuma seu cigarro. Contudo eu acho que eu não tenho mais o poder de controlar nada em mim. Seria tão mais fácil se eu pudesse começar tudo num novo lugar, seria tão mais fácil se eu pudesse apagar você daqui, da minha cabeça, pra sempre. Fingir que nada aconteceu, nem nunca vai acontecer. Tudo que eu conheço se afasta o tempo todo mesmo, destruir mais uma coisa daqui não faria diferença. E então tá tudo bem, porque eu sei que você pode e merece conseguir algo melhor do que eu, e que até já tem. Eu vou te magoar, se voltar pra te dar tchau. Eu sei disso. Porque é isso que me conquista, e é isso que faz com que eu me distancie de você cada vez mais, menina. É como se eu tivesse o mundo inteiro comigo e de repente estivesse completamente sozinha. É como se você fosse a única coisa que me lembrasse que eu posso levantar e lutar com cães famintos sem sair ferida.
Não toca em mim, não sinta minha pele formigar seus dedos. Eu não posso sentir os pelos das minhas mãos excitados. Eu não quero isso pra mim, eu não posso mais permitir ferir-me desta maneira mais. Não chega perto, pois eu tenho medo de não conseguir fazer você me odiar, como eu queria. Eu vou me lembrar do seu rosto e de tudo seu que marcou em mim, eu juro. Eu só não sei mais no que eu me transformei de um tempo pra cá. Mesmo com os melhores conselhos que alguém pode receber, eu continuo perdida dentro de mim. Eu não consigo não exagerar num sorriso ou num abraço de despedida, são coisas que vem de dentro de mim. E eu não consigo mais ouvir o que você tem pra dizer, porque agora eu estou longe demais. Talvez isso não seja a coisa certa a se fazer. Quem sabe nós simplesmente não deveríamos estar aqui, juntas, conversando? Seria tão mais fácil se eu não pudesse nos machucar.

Tudo o que eu estou dizendo, eu queria escutar de você.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Castro, quem é você?

Eu poderia disfarçar ou pelo menos não fazer tanta questão de demonstrar. Mas eu não consigo, sobretudo quando você me maltrata com seu sorriso afável. As coisas já pareceram começar erradas e não aparentam ter um final feliz. Mas, mulher, como pode não ser bom, se tenho dormido tão em paz esses dias? Não quero e nem farei questão de esconder o que eu sinto. E eu pretendo te contar no pé do ouvido, pois não suporto mais ter que conviver com algo tão grande e sufocante dentro de mim. Talvez assim voce pare de jogar e confundir sempre meus sentimentos.
Você não é o tipo de mulher que para o trânsito ou distrai o moço do bar. E mesmo assim, nao consigo enxergar algo que nao chame minha atenção em você. Suas pernas são finas e sua pele é intrigantemente branca. E num contraste quase perfeito, sua boca ilumina seu rosto e seu sorriso alfineta minha alma. Seus olhos caídos e seu nariz não me permitem parar de te observar nem por um segundo. Sua maneira de falar e o tom rouco da sua voz não desaparecem mais da minha cabeça. E estar com você é sempre tão confortante, que eu não sinto necessidade de nada além de respirar o mesmo ar que você, ou de sentir o calor do seu corpo próximo.
Mas seria bom ter um pouco mais de você, ter um pouco mais do que simplesmente seu ar e sua cor.

You Had Me, But I Never Had You

Cresci ouvindo você falar que eu não podia encostar nos cristais da sala, porque se eu quebrasse, você partiria meu crânio em quatro pedaços. Suas maluquices sempre me irritaram muito, mas nada comparado com as vezes que minha vida dependia de uma saída que você não permitiu. Poderia chorar lagrimas de sangue - como você dizia - que eu não iria. E mesmo com isso, de madrugada eu enrolava meu edredom com um travesseiro e uma manta, para dormir escondida no chão do seu quarto.
Cresci achando que eu não era, e nem tinha porque ser, a filha preferida. Afinal, eu não era tão comportada assim. Sempre fui do tipo que se recusava a fazer os deveres de casa e recebia anotações toda semana, e a que era advertida por ouvir musica durante as aulas de matemática. Não gostava de comer feijão e toda vez que eu tomava refrigerante te perguntava se eu podia beber as bolhinhas também. Jogava futebol com os meninos e me lambuzava na graxa do seu carro. Eu nunca achei divertido fazer a Barbie se casar com o Ken e ser feliz. Gostei sempre de emoções fortes.
Cresci acreditando que não havia nada de errado comigo até o dia que eu me encontrei apaixonada por alguém que eu não deveria estar. Durante muito tempo eu poupei de você certas coisas e acumulei tudo em mim. Eu não podia conversar com você sobre a garota que eu era apaixonada e eu sabia disso. Então, eu fui levando. Até que eu desiludi e morri por dentro. Passei muito tempo me preocupando com a dor que eu sentia e esqueci meus deveres. Fui morar com a minha avó, já que a nossa convivência ficava cada dia pior conforme você ia descobrindo coisas ao meu respeito.
Cresci sonhando em ser uma grande jogadora de basquete, até que meu médico me disse que eu era incapaz de praticar qualquer esporte que houvesse contato. Outro soco na cara. Você não ligou, pra você aquilo era só um passatempo pra mim, mas não era. Conheci um mundo novo, onde todos bebiam, fumavam e eram incrivelmente felizes. Aquilo me convidou e eu não pude recusar.
Cresci acreditando que cada minuto poderia ser mais feliz. Me apaixonei loucamente, de novo, por uma garota. E todo aquele tormento voltou. Você não ia aceitar e era o que eu esperava. Mais uma vez, você falhou. Eu revivi todo meu sofrimento de novo, sozinha. Eu quis correr, fugir, nunca mais olhar na sua cara. Mas eu sabia que isso não funcionaria. Então, eu me ocultei.
Estou aqui. Pedindo no mínimo desculpas pelas minhas atitudes impensadas e pelos meus sentimentos que você não consegue entender. Estou aqui, pra dizer, mais uma vez, que eu te amo, mãe.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sete Chaves

Guarde o seu sorriso secreto, guarde-o à sete chaves. Quando ele for tudo o que eu mais precisar, correrei desesperadamente até você. Não importa o quanto você diga que se importa, não implica o que faça, você não vai desvendar o que se passa aqui por dentro. Perdi a noção da hora: há quanto tempo estamos nos encarando nessa mesa?
Está difícil te olhar e não sentir absolutamente nada. Por que é tão complicado acreditar que eu te amo? Conto os dias, os anos, só para ficar ao seu lado; como você pode não crer? Não me canso de me perguntar se sou a única a enlouquecer esperando. Só sei que já nem lembro como é estar com você. Esqueci da melhor sensação que já tive na vida.
Não quero te olhar e saber que te perdi para quem quer que seja, mas simplesmente não posso querer continuar ao seu lado, suportando seu desprezo. Mais uma vez, só mais uma vez, eu preciso sentir o seu coração batendo acelerado perto do meu. Pra ter certeza de que tudo foi mais do que um sonho...
Me diz aquele seu discurso barato de novo. Vai, rápido, é dele que eu estou precisando agora. Volta e me diz tudo de novo, como se fosse a primeira vez. Me promete o mundo e acaba com ele logo depois, porque é desse jeito que eu gosto de você.
Eu não quero me render. Mas me beija logo e não me deixa tempo pra pensar. Me deixa fazer alguma coisa sem pensar...

Me deixa.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Em Primeiro Lugar

Queria ter conseguido arquitetar, detalhadamente, como tudo iria acontecer. Eu não achei que alguma coisa que tivesse durado tão pouco tempo, poderia ocupar tal espaço dentro de mim. Queria poder ter te dado um beijo sincero e um abraço verdadeiramente apertado na ultima vez que eu te vi. Porque hoje eu sinto saudade da veracidade dos meus sentimentos por você. Queria poder ter previsto tudo isso.Sabe, porque talvez assim eu não estaria agora nesse patamar espiritual e emocional. Previsto essa sensação de solidão, assim como qualquer coisa que você tem deixado. Ter congelado, petrificado cada momento que a gente passou. Ter posto todos eles num só lugar. Talvez naquele pequeno caderno que você me dedicou algumas musicas, ou naquele caderno que eu dediquei versos sem propósito a você. Memórias, besteiras, meu grande amor. O único, o interminável. Minha mais absoluta certeza, a única. A mais hipotética talvez. A mais tola, mais boba e ingênua. A que mais me fez retornar ao passado tantas vezes, a que mais me fez melancólica por ter visto o tempo passar e passar, sem nem conseguir me mexer, a que mais me ofendeu e atormentou. A que realmente me deixou mais perto do que eu acredito ser a morte.
Eu vou me segurar nesses momentos, como no fio que me segura. E por volta deles, onde só existe um abismo, não vou tropeçar, pois, ele me aguarda. Ele me espera com um caráter esfomeado, desesperado.Da mesma maneira doentia que eu desejei você por tanto tempo. De maneira que nem o céu nem o inferno podem desvirtuar, de maneira que nem a força mais esplêndida que existe pôde atravessar, pois acredito que ela própria tivesse sido esse sentimento.
E já que eu não posso guardá-los num pedaço de papel, vou me esforçar para nunca esquecê-los, mesmo que eles ainda assim esfaqueiem meu coração de vez em quando.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Piração de Domingo

Não sei descrever algo que eu não sinto, e também não sei mentir sobre meus sentimentos. Eu acredito que quando se escreve alguma coisa, descrevemos, de certa forma,como nos sentimos em diversas situações. Bom, receio dizer que não sei mais sentir. As coisas tem me parecido muito subjetivas. Será que o jeito que tal pessoa me beijou, significa que ela me ama? Será que ela realmente sente alguma coisa quando diz meu nome em voz alta? Será, que mesmo depois de tanto tempo, ela pensa em mim antes de dormir? Porra, vai tomar no cu. Que porra mais subjetiva do caralho. Eu odeio isso, odeio ter que decifrar os jogos de relacionamentos que as pessoas inventam. Eu odeio ter que assumir o posto de idiota as vezes pra alguém não sair ferido. Eu não consigo mais calar as coisas que vem dentro de mim. Eu não sei mais dizer pra mim mesma que devo esquecer alguém. Nem me convencer de que devo gostar de outra pessoa. Não quero ter que acordar e saber que eu estou subordinada a uma situação qualquer. Será que eu voltarei a realidade? Eu acho mesmo que eu devo estar ficando muito louca. Pois veja, que outra explicação eu teria pra isso que tenho sentido por você? Que merda, eu sei que eu não gosto de você. Mas por outro lado, alguma coisa em mim faz com que eu sempre termine a conclusão de um pensamento em você.
Eu queria poder libertar essa angustia e toda essa pressão que insiste em permanecer no meu corpo. Todo esse temor e qualquer coisa que me lembre que sou fraca. Eu preciso de mais, eu diria. Mais amor, mais carinho, mais cuidado... mais amizade.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Notificação Final

Quando eu comecei a escrever essa historia, pensei em escrever no final uma moral, apesar disso não ser uma fábula. Eu quis mostrar, através dela, com palavras e uma gramática torta o que eu sentia há um tempo e de como eu aprendi com certas coisas e me tornei o que sou hoje. Acho que quando se ama algo ou alguém, não podemos esperar para demonstrar nossos sentimentos, porque pode ser tarde. Não se pode deixar qualquer oportunidade de amar e ser amado pra depois. Por acaso, em um dos capítulos, eu tava escrevendo e de repente meu itunes tocou a música “Pais e filhos”, do Legião Urbana. E ao ouvir alguns trechos dela, eu cheguei a minha tão pensada moral.
“É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanha, porque se você parar pra pensar, na verdade não há. Sou a gota d’agua, sou um grão de areia.”



ps.: Eu vou refazer algumas partes desse final depois, então qualquer critica, me digam!

Capitulo 6 Final- Para você o paraíso, para mim, o pesadelo

Rio de Janeiro, 18 de agosto de 1990, Sábado.
Não deveria me preocupar, afinal, acho que o que ela queria era que eu seguisse em frente. Mas estou com medo, talvez eu nunca mais sinta aquilo de novo. É impossível sentir a mesma sensação de novo. O que eu preciso é de um porre de cachaça, pra ver se eu esqueço sua voz aveludada. De um soco na cara, talvez, para ter certeza. Ou talvez, muito talvez, eu só deva procurar alguém, ou algo que me ocupe. Um baseado seria bom.
Dois.

12:04



Senti-me tonta e meus reflexos foram invertidos pela situação. Deveria simplesmente desmaiar no sofá mesmo. Mas levantei, precisava respira o ar puro que vinha mais de cima, na direção da janela. Uma brisa gelou minhas narinas. Senti minha garganta esfriar, e o ar que nela percorria se chocar com o calor que subia. Ele me teve a vida inteira e eu nunca senti a reciprocidade disso. E agora, eu preciso admitir: eu sinto. E isso, por mais esperado e inesperado que tenha sido, me causa dor. Porque eu sei que agora ele é a única pessoa que pode estragar a minha vida e a única que pode me salvar dela. Segurei seu queixo com as duas mãos. Nunca vi tanta ternura num olhar. Levantei seu rosto, me inclinei um pouco e beijei seus lábios quentes com gosto de menta.
- Tem tanto tempo que eu espero isso, que eu não sei como reagir.
- Bom, é só você falar que sim.
- Dessa fez vai ser de verdade?
- Dessa vez, nós nunca mais vamos acordar de um sonho.
Quero me encontrar, me perdi nos últimos instantes. Ela aceitara, não? Então, eu precisava sair de lá com ela, ver o que eu nunca soube que existia: meu filho. Meu menino, meu Lucas. Eu sempre me imaginei um bom pai. Sempre pensei em ensinar meu filho a andar de bicicleta ou chutar a bola no ângulo do gol. Pensei que pudesse dividir com ele suas dores adolescentes. Mas ele agora já é um homem feito. Gostaria de pelo menos poder ouvir sua voz. Será que ele se parecia comigo? Levantei, e encarei minha noiva com um sorriso torto no rosto. Minha noiva.
- Vamos? Quero ver nosso filho!
- Vamos! Ele está lá em casa com uns amigos, vão assistir o jogo do flamengo juntos.
- Não acredito que você transformou nosso filho em flamenguista, Julia.
- Acontece...
Entramos no carro dele e quando saímos da garagem vi o sol se esconder atrás dos prédios e se despedir da cidade. Logo um raio de luz me forçou a fechar os olhos. Acho que nunca me senti tanto em paz. O calor fraco do sol esquentou levemente minha pele e pude me lembrar como foi bom deitar nos seus braços pela primeira vez. Seguimos para botafogo pela orla, passando por cada bairro que desenhara páginas de minha vida. Cada esquina, uma historia. Cada historia, uma emoção. Mas nenhuma, nenhuma comparada aquela que estava sentindo. A brisa do mar tocando meu rosto, meu corpo relaxado no banco do carona, o amor da minha vida ao meu lado. Nada disso se comparava a tudo aquilo que eu já tivera presenciado e amado. Eu estava feliz.
Esperei tanto por isso. Para ver um sorriso seu que eu sabia que não era forçado. Nunca pensei que eu fosse me casar beirando os 40 anos, muito menos já tendo um filho há tanto tempo, ainda mais com a mulher que amei desde a primeira vez que vi. Estávamos passando por Copacabana, entrando na Rua Princesa Isabel, quando observei seus olhos. Fiquei tempo demais os observando. Foi tudo muito rápido. De repente uma buzina ensurdecedora me avisou que entrara na contra-mão. Virei o volante para a esquerda com toda a força que tive tempo de resgatar. Mas senti um impacto. Sirenes, buzinas, gritos e pessoas histéricas. Tudo isso até que algo perfurou meu braço.
A dor era tão grande e tão prolongada que eu não conseguia respirar. Um pouco antes de sentir, sabia que iria doer muito. Mas nunca se passou pela minha cabeça que a dor seria tão insuportável. A última cena que meus olhos puderam registrar foi quando o farol direito do carro que vinha em nossa direção se chocou em mim. E nesse instante, aquele mesmo filminho se passou em um segundo. Vieram-me lembranças de quando eu era criança. E eu só tive tempo de refletir e me fazer uma única pergunta: é assim que isso vai terminar?

O carro finalmente parou depois de dançar sem jeito pela pista de asfalto. Tudo era sangue e toda parte do meu corpo latejava. Abri os olhos e por reflexo olhei com o canto do olho para o lado – já que meu pescoço era o que mais doía – para ver Júlia. Naquele momento eu não me importei o que doía ou se me faltava algum membro do corpo. Não me importei se eu respirava ou se não tinha força alguma para levantar. Quem foi o animal que arrancara meu coração com as próprias unhas? Que pai era Ele, capaz de despejar em mim tanta angustia? Levantei, dei a volta, olhei o carro trepado sob o meu. Só consegui levar minha mãos ao rosto. E chorar, soluçar de chorar. Eu, diante da mulher que eu amava, grande entendedor de medicina. Sem habilidade para salvá-la. Não havia jeito, ela perdera muito sangue e eu sabia disso. Pessoas se juntaram ao redor do acidente e poucos minutos depois chegou a polícia cercando o local e uma ambulância.
Retirei-a do carro com a maior cautela do mundo, como se ainda houvesse a possibilidade de quebrá-la. Ajoelhado no chão, deitei-a em meu colo, derramando sangue em minhas pernas. E nisso vieram os médicos da ambulância em minha direção, pedindo a todos para se afastarem. Alguns minutos depois, já havia o jornal da tarde fazendo uma reportagem e isso me deixou indignado. Pessoas faziam dinheiro enquanto eu assistia minha mulher perder vida em meus braços.
- Senhor, nós precisamos levá-la para o hospital.
- Vocês não vão levar a Júlia pra lugar nenhum!
- Mas senhor, você está louco? Ela está morrendo, nós precisamos ajudá-la.
- Não fale essa palavra, seu filho da puta! Ela não está morrendo. Ela não está morrendo...
- Nós precisamos levá-la!
De repente três policiais me seguraram por trás e quatro médicos a colocaram na maca para levá-la para o hospital. Eles não podiam ter feito aquilo. Eu era médico, eu sabia o que ia acontecer. Mas naquele momento, mais do que qualquer coisa, eu era humano. Eu era alguém que amava. E quando se ama muito, simplesmente não se raciocina em momentos como aquele. Senti minhas mãos suadas e meus olhos inchados de tanto chorar. Eu precisava gritar, então o fiz. O mais alto que pude, o mais sofrido que consegui, o mais verdadeiro que eu poderia ser.
- Vocês não podem tirar ela de mim, vocês não podem! Júlia! Volta! Seus filhos da puta! Voltem com ela! Eu não to preparado pra perdê-la, merda! Filhos da puta! Júlia! Eu te amo! Eu te amo, meu amor...
E então eu desmaiei. Tudo ficou preto e eu ainda podia, de alguma forma, sentir o aroma do seu perfume adocicado. O tempo havia se esgotado e eu não tinha a menor idéia do porquê. Parece que foi ontem que eu te vi pela primeira vez e que arranquei um beijo seu. Você se foi antes que eu tivesse qualquer oportunidade de me despedir de você. Você simplesmente se foi.

Pra sempre.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Nostalgia

Quero ser criança. Continuar a olhar a vida com deslumbre, como se cada passo fosse em direção a algo divertido. Juntar-me com as meninas para falar que os meninos são nojentos e ridículos. Brincar de boneca e me divertir muito com isso. Quero recuperar a inocência, o jeito puro de olhar as coisas. Correr pela rua sem rumo e me contentar absurdamente com isso. Aprender o tempo todo como tudo funciona. Surpreender-me com coisas banais e xingar os outros de bobo. Fazer pirraça na hora de comer legumes e encher o saco pra degustar a sobremesa e tomar refrigerante. Apaixonar-me pelo menino mais feio, só por ele me oferecer um pouco do seu lanche no recreio. Ser sincera, não medir palavras pra dizer o que penso. Ser simplesmente feliz e não me preocupar com os outros.
Quero ser adolescente. Viver intensamente da maneira que eu quiser. Dançar para descontrair e gritar muito alto nos momentos bons. Encher a cara, despertar na praia com a cara toda cheia de areia. Ser imprudente, não medir minhas atitudes. Ser dramático, colocar todos os meus sentimentos a prova de fogo. Sofrer demais, quando necessário. E gargalhar quando alguém contar uma piada sem graça. Saborear a vida e fazer dela algo mais próximo do que eles mostram em filmes. Apaixonar-me loucamente a ponto de achar que a vida não faz sentido quando esta pessoa não estiver comigo. Chorar quando alguém disser que está partindo, e me tornar a pessoa mais feliz do mundo quando alguém disser que veio só para me ver. E viver, viver, viver...isso me bastaria.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Capitulo 5 - Um Brilho Nos Olhos Como De Uma Criança

Rio de Janeiro, 3 de maio de 1985, Sábado.

Querido diário.

Entre um gole e uma tragada. Entre um corredor e um cômodo. Você bebia um vinho barato e eu, minha nova amiga, a garrafa de cerveja. Nunca vira coisa mais linda na vida. Não havia vento, nem luz para que sua beleza expandisse, mas isso também não seria necessário. Mesmo no escuro e bêbado, te vi. Logo ali, parada na pista de dança, sonhando. Tive sede. Queria um gole do seu vinho. Do seu vinho.

19:23




Não sabia se ficava, se fugia, ou se corria atrás do que deixara para trás há muito. Não sabia se bebia, se fumava, ou se simplesmente admirava o dia começar a surgir. Se ria, se chorava, se me sentia em paz, ou atordoada. Fechei os olhos e tentei perceber onde tudo isso começou. Eu tinha sido muito idiota, ou você muito imaturo? Ou, quem sabe, estávamos somente fora de sintonia. Peguei a bolsa, eu estava mesmo decidida. Eu voltaria, pegaria meu carro na rua seguinte e faria o retorno para a Gávea. Sabia que não podia mais deixar a vida caminhar livremente pelas ruas de meus pensamentos. Mas meus sonhos sempre se perdiam no escuro de um túnel. E este estava prestes a passar por uma dessas escuridões. E este, eu sabia, não poderia perder tão facilmente, tão brevemente. Não mais.
Como criança, desabei em pranto. Deveria pegar meu carro, de repente aparecer em sua casa. De repente me calar pra sempre. Não, eu deveria aparecer e trocar um pouco das minhas lagrimas velhas, por algumas mais recentes. É, só pra dizer coisas que eu nunca quis, ou realmente manter os olhos bem fechados ao te beijar. Pegar o carro, só por pegar. Aparecer por um motivo no qual eu não precisaria dar argumentos. Só pra dizer algumas coisas. Pra pedi-la em casamento, quem sabe, ali mesmo, onde ela estiver parada me encarando. Xingando-me, pra variar. Perguntando se a amo, se não vou partir amanha de manha para algum lugar desconhecido. Perguntando-me se desta vez, desta ultima vez, vamos realmente seguir nossas intuições, nossos sentimentos guardados. Se desta vez, vamos deixar a felicidade se permitir aparecer.
Atravessei a rua, entrei no carro e enquanto colocava o cinto, decidi que também contaria a ele tudo que me fizera correr. Repassei pelo menos umas 15 vezes o que eu pretendia dizer em minha cabeça, não cheguei a nenhum acordo com minhas idéias. Falaria então, o que me viesse a cabeça no momento. Gaguejaria e sabia disso, mas pelo menos diria verdades, mesmo que estas pudessem sair embaraçadas. Diria o que sentia por ele, se isso soasse saudável para mim. Cheguei ao seu prédio e interfonei. Ele deveria estar em casa....ele simplesmente tinha que estar em casa.
- Alô?!
- Michel, sou eu, Júlia.
- Júlia, pode subir! Abriu?
- Abriu, obrigada.
Meu Deus, era ela. Ela voltara, ela estava ali, na portaria. A merda é que eu não tinha comprado anel nenhum, então como a pediria em casamento? De qualquer maneira, corri para o banheiro e bochechei com um listerine, vai ver isso me socorresse depois da falha do anel. “Ding-dong”. A campainha. Olhei pelo olho mágico e observei durante um tempo seu rosto. Por que ela parecia mais bonita a cada segundo que passava? Por que, depois de tanto tempo, aquele sorriso ainda me motivava a acordar e viver? Por que eu refletia sobre minha vida e simplesmente não atendia a porta? Respirei e então, abri.
Seu rosto estava sereno, mas ele não me driblava. Ou melhor, suas mãos suadas não me enganavam. Sabia que ele estava ansioso ou que tinha sido pego de surpresa. Esse era meu intuito, não era? Era estranho e indescritivelmente perfeito como seu sorriso inclinado provocava estouros de efeitos loucos dentro de mim. O arrepio frio que percorreu minha espinha me arrancou o foco e não consegui expressar nem se quer uma palavra. Aquilo era uma prova de que ele, de fato, era a única pessoa que podia me completar. Era ele e disso eu não tinha duvida.
- Oi Júlia, eu... não esperava.
- Desculpa se eu apareci sem avisar, mas eu precisava falar com você depois do que aconteceu hoje.
- Júlia, eu acho que se alguém deve alguma explicação sobre alguma coisa, esse alguém sou eu. Por favor, entre, vamos conversar com calma, tudo bem?
- Tá, tudo bem.
Sentamos-nos no sofá da sala. Pensei no que dizer e como dizer. Mas tudo o que se passava pela minha cabeça era que ela viera justamente pra dizer que estava partindo e que tudo isso havia sido só mais um erro cometido. E eu não iria deixar. Eu não seria capaz de aceitar que minha felicidade caminhasse solta por aí, num lugar onde, mesmo que eu quisesse, eu não pudesse buscá-la, pois ela continuaria fugindo e fugindo até se esconder num beco onde eu não conseguiria mais achá-la. Não dessa vez, não enquanto eu estivesse vivo e diante dela. Não permitiria.
- Eu tenho pensado muito a respeito de nós dois e eu acho que está mais do que na hora de te falar.
- Júlia, você não pode fazer isso comigo. Você não pode simplesmente fugir de novo como se nada tivesse acontecido. Porra, eu te amo! Será que você consegue entender isso? Eu te amo! Mais do que a mim mesmo.
- Eu não vou a lugar nenhum, Michel! Eu, aliás, estou justamente aqui pra te dizer por que fugi uma vez e não posso mais fazer isso.
- Então me fala, porque eu me pergunto isso há mais de 20 anos!
Estava tremula, sabia que iria gaguejar. Sabia que aquele era o único momento que eu tinha pra desabafar tudo aquilo que eu deixara guardado por tanto tempo. Qual seria sua reação, afinal? Ele me amava, então entenderia que eu fizera tudo aquilo antes porque sentira dor. Aconteceu tudo tão de repente na minha vida que eu mal pudera administrar tudo ao mesmo tempo. Deixei tantas coisas acontecerem sem perceber.
- Michel, no dia 4 de fevereiro de 1989, quando você me contou que tinha me traído com aquela garota, meu mundo simplesmente acabou. E eu não estou falando isso porque eu era adolescente e tudo parece mil vezes pior quando se é jovem. Eu to falando isso, porque o motivo que me fez não querer mais olhar na sua cara e me obrigou a fugir, é que eu tinha acabado de descobrir que eu estava grávida de você.
- Júlia! Você esta me dizendo que você estava grávida de mim quando fugiu? Como assim?
- Como assim? Você está louco? Porque eu não podia conviver com o fato de ter um filho seu e saber que você não me amava! Porque eu não conseguia aceitar que durante tanto tempo eu tinha sido uma idiota! Você não me amava e isso estava tão na cara pra mim. Michel, eu era louca por você, eu sou louca por você. E você nunca fez nada a respeito disso!
- Júlia, calma, espera. Cadê o meu filho? Eu quero vê-lo! Não acredito que você não permitiu que eu participasse da vida dessa criança!
- Essa criança fez 20 anos em novembro. Ele mora comigo. O nome dele é Lucas. Não permiti que você participasse da vida dele porque tive medo de você decepcioná-lo, assim como você me decepcionou!
Os pêlos do meu ante-braço se eriçaram. Meus olhos se arregalaram, minhas mãos suaram em bicas. Minhas lagrimas percorreram minhas bochechas e finalmente tocaram minha boca aberta. Não havia saliva alguma, apenas as palpitações de meu coração na garganta. Não tinha palavras para descrever o que se passara comigo naqueles últimos instantes. Nunca pensei que fosse tão difícil assim descobrir que desconhecia mais de mim mesmo do que imaginava. Eu nunca pensei que aquelas palavras sairiam naquele momento e que a sinceridade delas pudesse me atingir tanto.
- Eu não vou decepcioná-lo, eu preciso vê-lo! Júlia, pelo amor de Deus. Eu passei o dia inteiro pensando em como eu falaria com você hoje e agora que eu estou diante de você eu não consigo dizer nada! Eu não posso mais viver sem você. Eu não quero mais ter que me afastar de você...
- Mas Michel...
- Não fala nada! Espera, se não eu não vou conseguir.
-Diga.
- Júlia, você aceita se casar comigo? Criar nosso Lucas juntos, e de verdade. Viver os 20 anos que desperdiçamos. Viver o nosso amor, porque, Júlia, eu sinto que o nosso momento pra ser feliz é agora. É agora.


A única coisa que eu consegui fazer foi levantar daquele sofá, sem reação. Lembranças antigas cruzaram meus olhos ao piscar e senti uma fisgada no peito. A quem eu queria enganar?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Como Um Castelo De Cartas De Baralho

Minha loucura e minha sanidade não irão guerrear para me sujeitar a encontrar um instante de realidade neste momento. É tão bom fantasiar com coisas que juramos que podem acontecer ou que já estejam acontecendo. É tão pratico acreditar no mundo que só nossos olhos podem ver. É tão nítida a sensação de estar vivendo algo intenso. É tão.. .real.
E é nessas horas que chega algum imbecil, te belisca e te desperta da mais perfeita ilusão que você já teve. Nesses momentos onde seu “eu” não precisa e não deseja estar em outro lugar. Você acorda, se encontra com a sua real vida, e desmonta.
Mas vai ver é assim mesmo e eu estou apenas - mais uma vez - delirando.

sábado, 22 de maio de 2010

Promessas: não vendemos fiado

Eu não me arrependo de não me lembrar como é sentir. Ou de não saber o que aconteceu. Acho que uma fraqueza é como um tiro no escuro, você sente dor, mas não sabe porque aquilo te atingiu. Como um tiro no peito. A dor se difunde de maneira tão incoerente, que implorar pra que ela acabe, é algo natural. Estancar o sangue, ou simplesmente deixá-lo escorrer até não restar uma gota.
Quando acaba, é pra valer, não é? A gente acaba se lembrando das coisas que a gente não fez. E se arrependendo de disparates que acabamos por cometer. Pensando em tudo aquilo que a gente não disse para alguém especial. Um abraço não tão apertado, uma palavra que escapuliu. Um sentimento que foi arrastado e outro que não se tolerou existir. E que agora não se pode voltar atrás.
Não quero que você se desculpe, ou que volte por se sentir forçada. Mas, e então? Isto é tudo que a gente pode fazer? Está tudo tão acabado. E enquanto escuto os aplausos e pessoas gritando meu nome enquanto eu seguro meu antigo violão, me lembro que quando você estiver lendo isto, eu já terei partido há muito. A questão é que você só desaponta aqueles que você acredita. A questão é que, meu amor, meu sangue está frio. Não há mais adrenalina correndo minhas veias. Não há brasa, pois não há paixão.
Enquanto eu a beijo, meus olhos fechados apertados temem que você corra. Mas isso já aconteceu.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Capitulo Quatro - Devaneios jovens, jovens devaneios.

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1985, Quarta- Feira.

Desvendei o mundo num quarto de ajudante doméstica em uma festa muito louca. Estávamos nós, ali, entre um amasso e outro, num arranca suspiro de um lado e aperta coxa de outro, e aconteceu. Não precisamente da maneira que eu esperava, pois foi algo absurdamente maior do que eu -em algum dia da minha vida- pudesse imaginar. Seu calor me devolveu a vida, ou melhor, me apresentou a ela. Amei ter podido dividir com você o momento mais pessoal que tivera comigo mesmo. Eu te amo, minha princesa.

15:03



Atirados na cama estávamos. Aquela era a minha cama. Olhei para o relógio, 9h. Tinha que trabalhar! Estava zonzo e ainda sem entender porque estávamos ali. Revirei a minha mesa de estudo a procura de uma caneta, pois queria escrever um bilhete para Julia avisando-a de ela deveria se sentir em casa enquanto eu trabalhava. Vi o calendário e graças ao bom Deus, era feriado. Agradeci umas duzentas vezes por não ter que ir ao hospital com essa cara péssima e uma ressaca apavorante. Voltei a me deitar, bem ao lado dela. Podia sentir sua respiração encostando meu rosto que se posicionava numa distancia ínfima do seu. E aquilo me satisfazia de uma maneira intrigante. Sua respiração me bastava, não era preciso nem roubar um beijo dela. Voltei a dormir, pois estava tranqüilo: ela se deitara em meus braços.
Senti uma respiração densa perto da minha: ele dormia pesadamente. Beijei sua testa e minha boca esteve colada em sua pele por alguns instantes. Seus olhos cinza de repente me afrontaram e aquilo me levou a um estado de espírito que até então eu nunca sentira. Beijei sua bochecha e sua mão de veludo tocou as raízes dos cabelos da minha nuca. Beijei sua boca. Beijei como uma criança, suando frio. Meus olhos se fecharam apertados e me dei conta de que durante anos desperdicei dezenas de milhões de beijos em pessoas que nunca significaram nada pra mim. Aquilo era um beijo, pois aquele hálito matinal me traria nojo na maioria dos casos, mas naquele, especificamente, me deu prazer, descanso e serenidade. Aquilo era o tal beijo que tanto eu sentia a ausência, que eu tanto cobiçava, que eu busquei em outras pessoas durante tanto tempo, em vão.
O toque de seus lábios macios me despertou de vez em um segundo. Eu estava pronto! Pronto para receber de novo tudo aquilo que deixara fugir pelos meus dedos num momento alucinado. Segurei sua cintura – que tinha curvas indescritíveis- e a posicionei de modo agradável. Vi um sorriso no canto de sua boca enquanto me beijava. Nunca sentira tanto amor envolvido num simples beijo. Ele não era simples! Ele era eu, ela e minha vida. Ele era tudo que tivera de extraordinário e seguro até aquele instante. A euforia tomou conta de nossos corpos e de repente aquele parecia um assunto para ser resolvido urgentemente para os dois. Afinal, há quanto tempo nossos corpos não se uniam a qualquer outro com tanta intensidade?
As roupas foram atiradas pelo quarto, que já estava bagunçado. Mas, de verdade, sabe o que estava de mais bagunçado naquele momento? Meu coração. Pois ele – ele mesmo, o fraco – disparou. Senti seu corpo se juntar ao meu, como se aquilo fosse a parte que faltasse, como se aquele fosse um membro que me fora retirado, mas que eu ainda pudesse sentir. E, o que eu poderia fazer naquela hora, a não ser amar? Amar loucamente, eu digo. E me entregar também, inteiramente. De corpo e alma, em seu sentido literal.
- Eu te amo, Júlia.
- E eu te odeio.
- É mesmo, senhorita? E posso saber o motivo?
- Te odeio pelo fato de você nunca ter conseguido me amar.
- Mas eu te amo!
- Não é porque fizemos amor, que você me ama! Michel, você vai se levantar, colocar sua roupa, preparar um café da manha, nós vamos comer e pronto. Acabou, até daqui a 20 anos! Você vai fingir que nada nunca aconteceu. Ou vai simplesmente encarar isso como uma simples transa e, Michel, eu não vou. Sou eu quem vai passar a tarde pensando em como eu gostaria que seu corpo tocasse o meu todos os dias de manha e quem vai desejar desesperadamente te encontrar por acaso em uma banca de jornal!
- Meu Deus, Júlia, pare de falar bobagens!
- Michel, você sabe que é verdade!
- Então, tá, já que você se sente mais feliz assim, então eu não te amo.
- Sim, então me responde: quando você vai aprender a me amar?
- Quanto eu te perder pra sempre.
Não havia percebido o porquê daquilo tudo. Por que Julia duvidava tanto de meu amor por ela? Por que para mim, de alguma forma, aquilo poderia fazer algum sentido? Demorei alguns minutos para tirar uma conclusão. Achei que a amasse, não duvidara disso até certo momento. Por que duvidaria, se afinal, a amasse de verdade? Se sim, então não amava. Confundi-me nas minhas próprias teses e argumentos. Afoguei-me na minha duvida e nela, criei um novo espaço em branco dentro de mim. Será que me iludira naqueles 3 dias, somente por estar me sentindo deserto? Não seria egoísmo de a minha parte ridicularizar o sentimento de alguém?
Peguei minhas coisas e antes mesmo de fazer o desjejum, fui embora. Peguei um taxi – já que deixara meu carro estacionado no bar – e fui até a praia de Ipanema. Sentei em um quiosque, e pedi uma cerveja e um cigarro a varejo. Observei a praia e as pessoas que faziam uma caminhada no calçadão. Nunca gostei de praia, justamente por ser branca demais. Nem de bebida, nem de cigarro. Acostumei-me a adorar, pois ele gostava. Ele sempre ia à praia cedo e ficava até o pôr-do-sol. Batia palmas quando o sol se ocultava atrás dos morros. Tomava sua cerveja gelada e queimava seu cigarro, enquanto eu lia uma revista sobre Nelson Rodrigues. “O amor bem-sucedido não interessa a ninguém!”, não é mesmo? Se era verdade ou não, aquela era a frase que cercava minha cabeça naquelas horas. E esperava que ela fosse mentira, pois me sentia interessada.
Poderia abraçá-la para sempre, mas ela saíra sem mesmo se despedir de mim como eu esperava. E no meu mundo, as coisas giravam tristes e um filme das coisas que passamos juntos cruzou meus olhos fechados. Quis me acalmar e chorar, estava de novo deixando algo perdido no meio do caminho. Não queria me enganar mais, estava certo do que eu queria. Eu a queria. Não esquecê-la ou deixar de lembrar seus olhos ingênuos nem por um segundo. Estava decidido: queria me casar, ter filhos, olhar seu sorriso todos os dias de manha.
Eu queria amá-la.

domingo, 25 de abril de 2010

Segunda Notificação

Caros leitores,

Desculpem-me, porém não consegui finalizar a historia em apenas 3 capítulos. Temo que necessite mais uns dois para terminá-la, pois cometi grande audácia em pré-determinar o tamanho deste texto. Perdoem-me também em não poder desenvolvê-lo de maneira mais satisfatória, porém não sou uma escritora tão digna de criatividade assim. Espero que estejam gostando, mais capítulos virão por ai.

Atenciosamente,
Camila Tucci

À direção.

Capitulo Três - Tirando Uma Casquinha

Rio de Janeiro, 7 de julho de 1990, Sábado.
Querido diário,
Faz mais de um ano que não a vejo passar. Ainda me sinto como se fosse esbarrar com ela a cada esquina que viro. Sinto falta de uma verdade, é como se a vida tivesse perdido o sentido. E hoje, ela faz menos ainda. Acabo de perder um ídolo e uma inspiração. Alguém que com suas músicas me fez perceber que somos todos canalhas e não prestamos. Aprendi que sou uma daquelas pessoas que “não muda quando é lua cheia, que não sabe amar”.
“Lhes de grandeza e um pouco de coragem”.
Viva Cazuza, eternamente.
22:49



Minha bolsa abarrotada de coisas inúteis me impediu de achar logo a chave de casa. Demorei pelo menos 10 minutos para encontrar e só consegui depois de despejar tudo no chão do corredor. Eu só tinha duas horas pra me arrumar para o encontro que conseguira arranjar com o Michel. “Dr. Michel”, ri sozinha. Era extremamente estranho pensar que aquele moleque que eu conheci, hoje é próspero em um trabalho tão nobre. Olhe pra mim. O que eu tenho a oferecer? Não sou linda. Pelo contrario, sou extremamente comum. Minha presença não é notada até eu esbarrar – com meu jeito atrapalhado – em alguma coisa que quebra. Meu sorriso não impede ninguém de chorar e eu sou tão ruim com as palavras! Meu suspiro não arranca outro. Não tenho o corpo que todos desejam ter. Mal tenho um emprego. Por outro lado, ele tem tanto... Pelo simples fato dele não precisar ter nada para ser especial. Ele simplesmente é.
Desabotoei a blusa e a pendurei na cadeira do quarto. Estava inteiramente perturbado. Vasculhei cada centímetro de minha casa, mesmo sabendo que tinha pouco tempo até encontrá-la em um bar. No meu armário, numa prateleira esquecida, uma caixinha de madeira parecia chamar mais a minha atenção que os outros cacarecos que ali estavam. Ela era toda rabiscada com símbolos que não faziam sentido e um “não abra nem em casos urgentes” num garrancho adolescente. Sentei-me no sofá e abri. Havia fotos realmente antigas. Júlia mudara muito de anos pra cá, mas nunca perdera seu jeito charmoso de ser. Tudo que ela fazia, parecia ter tanto amor envolvido. Então como eu pude esquecer – não completamente – como era o formato de seu rosto? Havia um bilhete meio amassado, com partes queimadas, onde eu só consegui ler o seguinte trecho:
“ Te amo tanto. É tão difícil pra mim ficar sem seu toque. É tão triste ter que dormir quando você não está por perto. É tão impossível imaginar minha vida sem você. E, Michel, acredite, eu vou continuar te amando hoje a noite, amanhã, terça-feira que vem, mês que vem, ano que vem, até daqui a 20 anos, até a eternidade.
Feliz 3 anos. Seu presente está aqui em casa. Venha buscá-lo junto com a sua camisa do Johnny Cash.
Beijos, Julia. 16.08.1988 “
Faltavam trinta minutos para encontrar-me com ele no tal bar e restaurante. Estava quase pronta e resolvi calçar logo meu salto alto, até porque gostaria de ficar com uma altura próxima a dele. Esvaziei um pouco minha bolsa, colocando somente o necessário, como não fazia há anos. Desci as escadas do prédio e entrei no carro. Michel marcara um encontro num bar que costumávamos ir quando éramos jovens, no qual eu já não me via freqüentando mais. Apertei o botão da garagem – graças a Deus agora ele funcionava – e dirigi cautelosamente até o lugar.
Fechei a caixinha, deixando uma lagrima cair. Será que eu fizera mesmo questão de apagar aquelas coisas da minha cabeça, ou elas simplesmente foram se apagando sozinhas? Não me recordo da ultima vez que pensara nela a não ser nos últimos 2 dias. Vesti-me rapidamente, colocando uma roupa um pouco social demais para a ocasião, sem saber mesmo porque queria parecer elegante perto dela. Ela parecia me conhecer muito melhor que eu mesmo, levando em consideração que ela se lembrava de uma parte da minha vida que eu mesmo não recordava. Pensei bem: eu sou aquilo que vivi. Se não me recordo o que vivi, talvez não recordasse também quem eu era. Deixei pra lá. Saí de casa, indo em direção ao antigo bar da Rua Maria Quitéria.
- A moça chegou cedo, hein.
- Acho que pra quem esperou tanto por isso, até que estou um pouco atrasada.
Tentei ser engraçada e honesta com meus sentimentos. Aquele lugar era estranho, a música parecia ser a mesma desde a hora em que cheguei. Adolescentes se embebedavam na porta e eu não parecia estar vestida de acordo com o lugar. A maioria deles usava uma calça apertada e um all star. Eu, por outro lado, estava com um vestido preto e um salto vermelho, e minha maquiagem era básica e não pesada como a deles.
Sentei-me e logo me encantei por aquela mulher. Pedi cerveja para nós dois e a conversa fluiu. Isso sempre acontece quando as pessoas estão levemente alteradas. Conversamos sobre as coisas que tínhamos passado naquela rua e muitas vezes caíamos nos risos. Falamos sobre nossa vida, nosso planos, nossa família, e de como tudo isso mudara drasticamente com o passar dos anos.
Ele sempre me parecia engraçado e espontâneo. Eu tive a impressão de que meus olhos estavam começando a ficar vesgos. Estava quase bêbada e isso me dava cada vez mais vontade de me aproximar dele. Uma vontade louca e inesperada de comer sorvete apareceu. Desejos de gente quase bêbada.
- Vamos comer sorvete? Eu estou morrendo de vontade de tomar sorvete!
- Claro! Garçom, por favor, traz o melhor sundae que você tem pra nós dois!
Caímos na gargalhada simplesmente por termos pedido sorvete. É estranho como a vida fica tão mais agitada e divertida quando se tem álcool. E isso é um típico pensamento de bêbado. No final, o sorvete tinha chegado e minha boca estava seca por um pouco dele.
- Eu adoro sundae. É uma das coisas mais gostosas que já comi. Eu nem estava pensando em comer, mas quando você disse sorvete, pensei logo em sundae.
- Para de falar coisas sem sentido e come!
Eu ri, e como era de costume, comi o sundae pelas beiradas. Percebi no rosto do Michel, ele parecia tão ingênuo enquanto deliciava-se na calda de chocolate. Tive uma vontade repentina de beijá-lo.
- Por que você esta comendo pelas beiradas?
- Porque a parte que eu mais gosto do sundae é a paçoca e eu quero deixá-la pro final.
Um silencio – de nós dois, não do local – tomou conta por um instante.
- É isso que a gente tá fazendo, não é?
- Como assim?
- Nosso relacionamento, Julia. A gente estava comendo pelas beiradas. E agora, estamos aqui, quase chegando à paçoca.
Meus olhos encheram d’água enquanto aquelas palavras saltavam da minha boca. Eu estava mesmo muito doido. E tudo o que havia se passado naquela noite, me deixara mais perturbado ainda. Quis abraçá-la, quis correr, me esconder, mas fiquei incrivelmente imóvel.
- Michel, essa é a coisa mais estúpida e linda que eu já ouvi em toda a minha vida. Mas eu espero que ainda demore a acabar o nosso sundae.


Mentira. Queria que tudo tivesse se concretizado naquele instante.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Capitulo Dois - Evidências

Rio de Janeiro, 16 de agosto de 1985, Domingo.
Querido diário,
Nem o fato de que o Brasil esteja sendo governado por um idiota chamado José Sarney, graças a morte inesperada do Tancredo Neves – que Deus o tenha – tirará de mim a felicidade que meu mundo se encontra. A partir de hoje, estou namorando e mais, pela primeira vez, completamente apaixonado. E só se sabe que está amando quando realmente se está. Não posso revelar meus mistérios. Me sinto completo e a parte que me faltava se chama Júlia.
19:02


Aquele homem tinha um rosto estranho. Seu cavanhaque era ruivo e ele, absolutamente careca. Um alargador preto enfeitava as duas orelhas e, no seu braço esquerdo, uma tatuagem estranha – e engraçada – da atriz Audrey Hepburn. Luz e ação. Começaria ali o meu teste para a peça “Muito Longe de Casa” baseada em um livro do próprio homem barbado. “Redentor” era como gostava de ser chamado. Ele fumou pelo menos 10 cigarros no período de 30 min.E aquilo me fez relembrar desse antigo vicio meu. Lembrei-me dos cabelos negros e lisos espetados e de quando me ofereceu um cigarro. Lembro-me de ter parado por saber que cada cigarro fumado o traria de volta ao meu pensamento. Aquele cheiro, aquela fumaça, aquele gosto e hoje, ele ali, do meu lado, comprando os mesmos cigarros de 20 anos atrás.
O movimento por ali era modesto, apesar de ser inicio de semana. Na minha sala mesmo, deviam ter entrado 4 pacientes e já estava quase na hora do almoço. Todo esse tempo ocioso me fez pensar na manhã que tivera antes de dar início a minha rotina de trabalho. São 12h, talvez encontrasse um amor perdido por aí. Pensei alto, minha sorte era que não tinha ninguém por perto para achar que sou maluco. E pra falar a verdade, nem sei porquê pensei. Talvez isso só me evidenciasse mais e mais que eu precisava mesmo tirar umas férias do hospital e pensar um pouco na minha vida. Eu me considerava um homem digno e bem apessoado, e não entendia como me considerava também muito solitário.
Recordei-me da sua barba espetando a minha bochecha e de como eu sentia cócegas. Seu hálito de cigarro que se confundia com meu de cerveja, e da maneira estranha que eu tanto o desejava. Não passei na prova do Redentor e não fui escolhida para fazer a maldita peça. Fiquei ansiosa e me deu vontade de comprar um cigarro. Cheguei a um barzinho perto de onde estava e fui ver se por ali vendia cigarros. Não vendia, mas pude desfrutar novamente daquele lindo tom de pele. Decidi me apresentar civilizadamente, mesmo morrendo de medo.
- Oi, você que é o Dr. Michel que estava hoje de manhã na banca de jornal, não é?
Eu estava mesmo distraído, olhando fixamente para o meu macarrão a bolonhesa e uma voz suave me perguntou quem eu era. Olhei os olhos amendoados e quase cor de mel que apareceram na minha frente. E a saia de cintura alta que favorecia seus seios. E tudo aquilo que apareceu que eu não conseguia verbalizar. Só sei que estávamos ali, um perto do outro, no momento mais íntimo que tivemos.
- Sim, sou eu sim! Bom, Michel, prazer, qual seu nome?
- Julia. Sabe que estou com uma dor nas costas? Passei aqui para comprar um cigarro e não tinha. Resolvi falar com você por saber que é medico.
- Pra falar a verdade, eu sou cardiologista. Cuido de corações.
- Ah, uma pena...
Eu me sentei mesmo sem ser convidada e ele não me pareceu desconfortável com isso. Será que ele não se lembra mesmo de mim? Será que existiram tantos amores depois do meu, que eu acabei me tornando irrelevante em sua vida? Será que ele nunca mais pensou em mim, depois que abandonei - quase que de vez – a cidade? Você agiu exatamente como achei que você fosse. Eu fui a machucada, por isso que me lembro tanto. Quanto mais pensava que tinha esquecido, mais eu estava lembrando que você existiu. E eu sei, existem coisas que realmente não fazem sentido.
Ela se sentou e eu não sei por que aquilo me causou um frio na barriga. Pude sentir meus lábios tremerem de tanta vontade de beijá-la. Quando ela começou a falar que havia pensado em fazer medicina e outras coisas que não fiz questão de ouvir, percebi que aquela mulher, que estava bem a minha frente, era a coisa mais linda que eu já vira. Não consegui terminar meu prato, pois nunca me senti a vontade comendo perto de alguém.
Quem diria que agora, 20 anos depois de ter quebrado o meu coração, ele vive para consertá-los por aí. Falei de muitas coisas com ele, mas ele não me pareceu muito interessado. Em suas 3 garfadas no macarrão que pedira, me recordei de como eu odiava o fato dele não saber segurar um talher. Ou por não saber que o guardanapo deveria ficar no colo. E de como esse jeito desajeitado dele continuava me perturbando. E, meu Deus, eu estava mesmo perturbada.
- Será que agora a gente pode para de fingir que não nos conhecemos?
- Como assim?
- Júlia, Michel! Eu sou a Júlia! A garota que você namorou dos seus quatorze até os seus malditos dezenove anos! A menina inocente que perdeu a virgindade com você. A idiota, que te contou pela primeira vez a piada estúpida do pássaro que não tinha cu! A Júlia que te amou louca, perdida e desesperadamente! A imbecil que deixou a vida dela correr sem rumo por nunca ter superado estar sem você. E, quando eu finalmente consegui esquecer o jeito que a sua barba espeta, que você come, que você ronca, que você respira, que você beija, que você sorri, que você olha, que você transa... te encontro, na rua, por acaso. E você não se deu nem o trabalho de colocar essa sua cabeça genial pra lembrar-se de como é a porra do meu rosto?
- Eu, na verdade, nem sei o que dizer. Realmente, não te reconheci. Pra mim, foi tão difícil quanto pra você, Julia! Eu demorei muito pra te esquecer e tive vários relacionamentos. Me dei muito mal em todos, sofri exatamente o que você sofreu. Mas, Julia, não fique brava comigo. Você me obrigou a te esquecer. Você sumiu, não disse pra onde iria, não me deixou nem se quer um bilhete ou uma blusa sua suja na qual eu pudesse apreciar o seu cheiro por mais algumas horas. Você não me deixou nada, nem alternativas. Tive que seguir em frente, mesmo não inteiramente satisfeito.
Respirei. De uma coisa eu tinha me esquecido: como suas palavras sempre soavam muito sinceras.
Parei. De uma coisa eu nunca poderia esquecer: eu me apaixonaria, se a visse de novo. E, que desta vez, seria impossível esquecê-la.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Capitulo Um - A Menina do Outro Lado da Rua

Rio de Janeiro, 5 de fevereiro de 1989, Domingo.

Querido diário,
Eu traí. Deixei todo um sentimento de lado, 4 anos e meio e outras coisas irem embora, em uma só noite. Desperdicei. Deixei fugir. Tudo escrito aqui até então, se foi. O vento secou, o tempo morreu pra mim, não existe vida após isso. Ela se foi, pra sempre, levando junto a si parte de mim. Arrumou as malas, saiu da cidade e nem esperou eu terminar de me esclarecer. Parece que não adormeço há dias. Quero recuar no tempo. Eu a quero de volta.
15:32





O pandemônio ensurdecedor do meu despertador me acordou às 8h, lembrando-me que hoje é segunda-feira. Esfreguei meus olhos remelentos com as mãos fechadas, para que minha visão voltasse ao normal. Espreguicei-me, estralando todos os ossos do meu corpo. Retirei o cobertor, me sentei e ali fiquei durante dois minutos. Eu estava realmente exausto. Beber com os amigos domingo, não é uma das melhores alternativas quando se sabe que vai acordar cedo – e para ralar num hospital - no dia seguinte. Tomei uma ducha, unicamente para despertar e, ao sair do Box, fiz a barba deixando-a bem curta – já que o barbeador parou de funcionar ainda quando estava aparando-a, me impedido de terminar o serviço - e com uma aparência saudável, diferente de como estava antes. Fui até a cozinha e enquanto a água do café não borbulhava, aprontei um sanduiche de presunto extremamente mal-feito. Bebi o café ardente e como de costume, queimei o céu da boca. Para suavizar, comi o sanduiche e bebi uma água bem refrescante. Vesti-me rapidamente, escovei os dentes e desci até a garagem. Liguei o carro e me lembrei de que meus cigarros haviam acabado. Decidi ir mesmo assim até o hospital e comprar por ali mesmo.
Merda, merda, merda! Acordei às 8h e 24min completamente desesperada. Havia esquecido mesmo de que tinha uma entrevista importantíssima marcada as 10h, e que não poderia aparecer por lá com um aspecto dorminhoco e desleixado como era de praxe. Vesti-me em um segundo e desci as escadas do prédio – já que morava num prédio de 3 andares antigo, no qual a eletricidade tinha sido descoberta a pouco – e entrei no meu Fiat velho. Apertei quinhentas vezes o botão da garagem, mas aquela merda estava com a pilha fraca. Chamei o porteiro 4 vezes e ele nem se quer apareceu. Tentei mais uma única vez – já estava pensando em pegar um taxi – mas ele veio correndo e abotoando as calças.
- Calma, Dona Júlia, já abrirei o portão para a senhora.
Acelerei tão pesadamente o carro, que ele até chiou. Minha entrevista de artes cênicas com um homem - que não era muito mais velho que eu - seria ao lado de um hospital público, que agora não me recordo bem o nome. Parei em uma banca de jornal a fim de comprar as pilhas para a porra do meu controle da garagem.
Uma mulher, que deveria ter lá seus 30 anos, cruzou a rua e eu podia jurar que vinha em minha direção. Seus cabelos louros sacudiam com brisa e eu podia quase senti-los batendo, esfriando e arrepiando sua nuca. No meio de toda distração que ela me causou, lembrei-me de precisava comprar além maldito cigarro, pilhas para o meu fiel barbeador Sony.
Estava atrapalhada, revirando notas de 2 reais espalhadas na minha bolsa. Quanto custa uma pilha palito? Eram 8h e 47min, me acalmei. Não estava tão atrasada como suspeitava. Não sei por que, mas minha carteira se resumia em bagunça. Eu nunca fui mesmo muito organizada...
Seu Manoel me saudou sorridente, como se já fosse sexta-feira.
- Dr. Michel, vai querer o de sempre?
Antes que eu pudesse respondê-lo, chegou as minha narinas aguçadas um cheiro suave e doce, que me tocou de certa forma.
- Bom dia, Sr. – disse a mulher que eu já havia paquerado de longe minutos atrás.
- Sim, Carlton vermelho, por favor. – falei rapidamente.
Aproximei-me de – algo que se parecia com – uma banca de jornal. E decidi comprar ali mesmo as pilhas para o controle da garagem. Ninguém merecia depender da boa vontade do meu porteiro Zé para chegar a tempo em algum compromisso todo dia.
- Bom dia, Sr. – saudei o vendedor, ainda revirando a bolsa.
De repente uma voz grossa, com um timbre fascinante, ecoou no meu ouvido direito, pedindo por cigarros de filtro branco. Lembro-me da época em que eu fumava e lembro-me de como demorou abandonar este vício.
- O Sr. tem pilhas do tipo AAA? – Nós dois perguntamos juntos, no mesmíssimo tom de voz.
Eu parei e dei uma risada. Na verdade eu não tinha achado graça alguma de nada por ali. Ri mesmo por estar nervoso, como sempre fico ao lado de uma mulher bonita como aquela. Bonita, não. Ela era linda.
- Devo me desculpar, mas só tenho esta única embalagem de pilhas AAA. Chegará mais amanhã.
- Então, por favor, venda a esta moça.
- Júlia, por favor.
- Venda a Júlia, Seu Manoel, minha máquina de barbear pode esperar até amanhã.
Ele se virou e entregou em minhas mãos a embalagem das pilhas AAA. Encostei por acaso em sua mão quente e me subiu um calafrio. Naquele momento, naquele exato momento olhei para seus olhos acinzentados que me engoliam, e me dei conta em um segundo : Ele era o Michel.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Notificação

Caros leitores,

Ficarei um tempo sem divulgar textos. A história que vem a seguir é extensa e será dividida em 3 capítulos, porém não muito grandes. Esta história tanto demandará de mim paciência e dedicação para escrevê-la, como em breve exigirá de vocês, para entendê-la.
Recomendo-os, que durante este tempo freqüentem outros grandes blogs e leiam ótimas histórias que eles apresentam. Ou que leiam um bom livro. Ou que simplesmente estudem pra prova de física.

Abraço,
Camila Tucci

À direção.

Cansei de falar sobre isso.

É arriscado pra mim, ter que abrigar isso. Não consigo mais observar fotos ou ler qualquer porção de papel pisado por ai. Queria abolir. Esquecer de vez que eu sofri por isso. Esquecer seu cheiro, seu gosto... e até sua habilidade de ser. É impraticável esquecer como você sorri. Ou como você bebe água nesse canudo que eu tanto tenho ciúme. Já tanto faz, pra você.
Você me esqueceu, assim como se esquece o nome de alguém se acabou de conhecer. Um alheio. Mas uma coisa eu sei: eu faria qualquer coisa pra apagar você. Mas será que eu quero mesmo? Talvez eu nunca mais encontrarei alguém que faça eu sentir o que você me apropriou... Eu inutilizei tudo. Eu fiz tudo tomar um rumo inconveniente, consegui arrasar meu próprio destino. Ridicularizei o mundo, como alguém que não sabe o que é vida. E eu não sabia mesmo. Quis pagar para ver. Quis apostar.







Prometo que o meu próximo texto será sobre assuntos mais compreensíveis.